A Língua: um ser que existe em si mesmo - Banco de redações

O modo que nos comunicamos nos caracteriza. Ao observá-lo, tendemos a identificar facilmente pessoas de diferentes regiões e contextos sociais. Portanto, existe, de fato, o que pode ser chamado de pré-conceito linguístico. Ele está presente como um espectro sobre a sociedade e a aceitação de uma “linguagem popular” não o fará desaparecer. Pelo contrário, reforçará ainda mais a ideia de que determinada parcela de pessoas fala de maneira diferente, separando-a da restante, e assim devemos aceitá-la como é, sem tentar mudá-la ou enquadrá-la.

No entanto, ao contrário do que parecem querer dizer os linguistas, os defensores do bom português não se preocupam em exclusivamente acusá-las de “incapazes”. Esta seria uma denominação injusta, já que a maioria dos que falam incorretamente o faz por não possuir, muitas vezes, a mínima noção de como seria a maneira correta. Por outro lado, para aqueles que receberam durante toda a vida uma educação ao menos razoável, não existe razão – exceto se a preguiça for considerada uma delas – para não falar da forma certa. Não é necessário manter um discurso coloquial em uma conversa entre amigos, porém adicionar um “s” (em alguns casos, o mínimo necessário para um termo ficar no plural e concordar com seu antecedente!) não desperdiçará tempo, nem forças.

Ao contrário do que se costuma pregar, a língua portuguesa é simples quando nos acostumamos a ela. Inconcebível é acreditar que seria possível viver em uma sociedade em que todos falassem como querem. É necessário haver um padrão, uma base de apoio. Caso contrário, o caos estaria instalado e ninguém se entenderia. É completamente aceitável adicionar características culturais à fala, já que gírias e expressões, por exemplo, fazem parte da cultura de um povo. Mas a língua, esta sim, por si só, já é o suficiente para caracterizar um país e seus habitantes, e a fantasia de alterá-la em razão de uma minoria não deveria nem mesmo ser cogitada.