O primo da Califórnia
Adriano Genipapo era um músico pobre e cheio de dívidas, tinha em sua casa uma empregada que vivia a reclamar e a destratá-lo, não cansava de afirmar que quando nova era a formosa Beatriz e depois se casou com um soldado e que agora tinha que servir a um músico pobre que devia à própria empregada.
Adriano tinha ainda uma namorada, Celestina, tão desafortunada como ele, mas que antes era uma rica menina que perdera tudo quando seu pai morreu, porque seus parentes roubaram-lhe toda a herança, lançaram a menina na rua e a deram-na como morta. Mas ela não seguiu o caminho da prostituição e permaneceu pura, vivendo do seu trabalho.
Celestina era uma mulher boa, e por trás de Adriano pagou as dívidas dele com Beatriz e ainda mais tarde devolveu-lhe o relógio que o pobre penhorara. Ela por fim, como depois revelara frente às perguntas que Adriano lançara, tinha estado ausente por alguns dias e a luz do seu quarto ficava acessa até altas horas da noite. O motivo era que ela estava gravando as músicas de Adriano, porque assim as pessoas veriam como ele era um grande artista.
Vinham também “incomodar” Adriano, Pantaleão e Felisberto, o primeiro cobrando o aluguel e o despedindo da função de professor de música de sua filha (a menina estava se apaixonando por Adriano) e de locatório seu, mas ao fim o deixou apenas como locatório de um sótão. O segundo, que era o alfaiate pra quem Adriano também devia, e de quem ele já estava precisando dos serviços outra vez.
Nessas circunstâncias, Adriano foi a um encontro com um editor que iria comprar suas músicas, o que lhe deu uma imensa esperança e por isso já deixara Beatriz encarregada de comprar champagne e bolo inglês, pois um dia perdera uma aposta e devia aos amigos tal refeição. Beatriz comprou, mas para pagar Adriano teve que penhorar o seu relógio já que o editor não estava interessado nas composições dele porque lhe faltava um nome conhecido.
Os amigos vieram e dentre eles estava Ernesto e Eduardo, que ali começaram uma conversa sobre seus parentes ricos que lhe deixariam gordas heranças, o que fez Adriano inventar um primo riquíssimo, Paulo Claudio Genipapo, que morava na Califórnia, porém, como não era acostumado com o álcool, dormiu e revelou que não tinha primo nenhum.
Os amigos, que ouviram a revelação, resolveram que, como Adriano quis se rir às custas deles, por vingança eles fariam o mesmo, pondo nos jornais do Rio de Janeiro que morrera na Califórnia um brasileiro chamado Paulo Claudio Genipapo, e que deixara de herança a seu único herdeiro, Adriano Genipapo, cinco milhões.
E assim, no dia seguinte, Adriano acordou e se mudou para o sótão, sendo o tempo inteiro destratado por Beatriz, mas então no momento em que deixou-a sozinha, a velha leu o jornal e aí começou a tratar o rapaz como um príncipe e como uma princesa a Celestina, que chegara há pouco.
Chegou também Pantaleão, que agora queria vender sua casa a Adriano e ainda lhe entregar a mão de sua filha ao músico. Adriano acabou aceitando. A isso já brigara com Celestina, pois dissera que os dois seriam amantes, mas para a moça só servia-lhe o casamento. Depois chegou Felisberto que o tratou também como grande amigo, lhe oferecendo duas novas roupas, sendo que no dia anterior o negara qualquer costura. E depois ainda voltou ali a fim de lhe comprar o sótão em que ele vivia. E não parou por aí. Adriano foi convidado a trabalhar em uma orquestra, e outros se auto- obrigavam a produzir suas músicas. Até tudo isso, ele já tinha se reconciliado com Celestina.
Foi então que os amigos de Adriano vieram lhe contar a verdade. E bastou isso para que Beatriz o tratasse como sempre, Pantaleão o dispensasse como locatário e como professor de sua filha (não havia mais negócios), e Felisberto, sem entender o que se passava, perceber que estava apenas em um problema.
A resposta de Adriano foi dizer que o sótão estava vendido, e como Pantaleão o queria levar à polícia, ele se prontificou em ir, visto que queria falar ao delegado sobre um monopólio de toicinho (novo negócio de Pantaleão), deixando-o sem resposta.
A brincadeira dos amigos de Adriano acabou tirando-lhe da pobreza já que agora estava cheio de serviços com sua música sendo produzida e a orquestra. Assim ele declarou que ficava com a casa de Pantaleão, mas não com a filha. Afinal saíra da pobreza.
Por Rebeca Cabral
Adriano tinha ainda uma namorada, Celestina, tão desafortunada como ele, mas que antes era uma rica menina que perdera tudo quando seu pai morreu, porque seus parentes roubaram-lhe toda a herança, lançaram a menina na rua e a deram-na como morta. Mas ela não seguiu o caminho da prostituição e permaneceu pura, vivendo do seu trabalho.
Celestina era uma mulher boa, e por trás de Adriano pagou as dívidas dele com Beatriz e ainda mais tarde devolveu-lhe o relógio que o pobre penhorara. Ela por fim, como depois revelara frente às perguntas que Adriano lançara, tinha estado ausente por alguns dias e a luz do seu quarto ficava acessa até altas horas da noite. O motivo era que ela estava gravando as músicas de Adriano, porque assim as pessoas veriam como ele era um grande artista.
Vinham também “incomodar” Adriano, Pantaleão e Felisberto, o primeiro cobrando o aluguel e o despedindo da função de professor de música de sua filha (a menina estava se apaixonando por Adriano) e de locatório seu, mas ao fim o deixou apenas como locatório de um sótão. O segundo, que era o alfaiate pra quem Adriano também devia, e de quem ele já estava precisando dos serviços outra vez.
Nessas circunstâncias, Adriano foi a um encontro com um editor que iria comprar suas músicas, o que lhe deu uma imensa esperança e por isso já deixara Beatriz encarregada de comprar champagne e bolo inglês, pois um dia perdera uma aposta e devia aos amigos tal refeição. Beatriz comprou, mas para pagar Adriano teve que penhorar o seu relógio já que o editor não estava interessado nas composições dele porque lhe faltava um nome conhecido.
Os amigos vieram e dentre eles estava Ernesto e Eduardo, que ali começaram uma conversa sobre seus parentes ricos que lhe deixariam gordas heranças, o que fez Adriano inventar um primo riquíssimo, Paulo Claudio Genipapo, que morava na Califórnia, porém, como não era acostumado com o álcool, dormiu e revelou que não tinha primo nenhum.
Os amigos, que ouviram a revelação, resolveram que, como Adriano quis se rir às custas deles, por vingança eles fariam o mesmo, pondo nos jornais do Rio de Janeiro que morrera na Califórnia um brasileiro chamado Paulo Claudio Genipapo, e que deixara de herança a seu único herdeiro, Adriano Genipapo, cinco milhões.
E assim, no dia seguinte, Adriano acordou e se mudou para o sótão, sendo o tempo inteiro destratado por Beatriz, mas então no momento em que deixou-a sozinha, a velha leu o jornal e aí começou a tratar o rapaz como um príncipe e como uma princesa a Celestina, que chegara há pouco.
Chegou também Pantaleão, que agora queria vender sua casa a Adriano e ainda lhe entregar a mão de sua filha ao músico. Adriano acabou aceitando. A isso já brigara com Celestina, pois dissera que os dois seriam amantes, mas para a moça só servia-lhe o casamento. Depois chegou Felisberto que o tratou também como grande amigo, lhe oferecendo duas novas roupas, sendo que no dia anterior o negara qualquer costura. E depois ainda voltou ali a fim de lhe comprar o sótão em que ele vivia. E não parou por aí. Adriano foi convidado a trabalhar em uma orquestra, e outros se auto- obrigavam a produzir suas músicas. Até tudo isso, ele já tinha se reconciliado com Celestina.
Foi então que os amigos de Adriano vieram lhe contar a verdade. E bastou isso para que Beatriz o tratasse como sempre, Pantaleão o dispensasse como locatário e como professor de sua filha (não havia mais negócios), e Felisberto, sem entender o que se passava, perceber que estava apenas em um problema.
A resposta de Adriano foi dizer que o sótão estava vendido, e como Pantaleão o queria levar à polícia, ele se prontificou em ir, visto que queria falar ao delegado sobre um monopólio de toicinho (novo negócio de Pantaleão), deixando-o sem resposta.
A brincadeira dos amigos de Adriano acabou tirando-lhe da pobreza já que agora estava cheio de serviços com sua música sendo produzida e a orquestra. Assim ele declarou que ficava com a casa de Pantaleão, mas não com a filha. Afinal saíra da pobreza.
Por Rebeca Cabral