O Mistério da Casa Verde
Artuzinho, André, Pedro Bola e Leo eram grandes amigos. Os dois primeiros eram os mais bonitos e galantes, depois o guloso e o inteligente, respectivamente. Entre Artuzinho e André havia sempre uma rivalidade. Sendo que Artuzinho era o mais popular dos rapazes e uma espécie de líder entre eles.
Todos moravam na cidadezinha de Itaguaí e estavam precisando de um local pra realizar suas reuniões onde poderiam dançar, ouvir suas músicas em volume máximo e se divertirem.
Artuzinho, frente a essa necessidade, teve a idéia de fazer seu clube na chamada Casa Verde. Tratava se do antigo hospício da cidade narrada no romance O alienista, de Machado de Assis. Em torno de tal casa girava toda uma história de assombração e uma revolta contra o livro de Machado.
Os meninos acabaram por aceitar a idéia e na noite seguinte estavam nos fundos da Casa Verde a furar uma porta, já que as portas e janelas antigas tinham sido todas muradas. Assim que entraram na casa se surpreenderam com a limpeza do local e depois, na sala do diretor, com a presença de um homem vestido com roupas do século XIX.
Saíram correndo, e depois de uma discussão na qual Leo sabiamente afirmou que não se tratava de um fantasma voltaram na noite seguinte. A porta tinha sido lacrada com madeira que foi fácil de retirar. Depois de votações ficou firmado que apenas Artuzinho e Leo entrariam na casa, tiveram com o homem que afirmou ser o alienista e que os rapazes eram loucos, depois os expulsou.
Novamente conversaram e meio a isso encontraram um alçapão que era provavelmente o lugar onde alguém entrava para levar comida ao homem, já que ele era totalmente desconhecido e sem marcas de sol, o que significava que não saia da Casa Verde. Decidiram que fariam turnos de seis horas vigiando a entrada do alçapão pra descobrir quem mantinha o homem ali.
Artuzinho ficou com o primeiro turno e quinze minutos antes de sua troca viu quem era o ajudante. Na verdade tratava-se de uma moça muito linda que vinha vestida também com roupas do século XIX. Ele não se conteve a esperar por Leo e seguiu a menina descobrindo o endereço.
Quando Voltou à Casa Verde contou de suas descobertas a Leo e assim marcaram um novo encontro entre os quatro. As novas descobertas foram ditas e Leo trazia com ele O alienista. E depois disso eles foram ter com a professora Isaura, uma apaixonada por Machado de Assis, e essa lhe explicou todo o romance em que o Dr. Simão Bacamarte inaugurou esse manicômio e se dedicava aos estudos da loucura humana através dos pacientes que tinha ali internado, mas que com o passar do tempo ele passou a internar pessoas sãs até que se fez uma rebelião onde um barbeiro assumiu o poder da cidade, mas logo ficou ao lado do médico e depois foi derrubado por novo barbeiro, enquanto Simão continuava a prender as pessoas, até que uma ajuda de fora veio e restabeleceu a ordem e o médico acabou afirmando que todos eram loucos e que, no entanto, isso era o comum e como só ele estava são deveria ele se internar até se tornar louco como os demais, ficando sozinho na Casa Verde até sua morte, dezessete meses depois.
Com isso, os meninos foram embora, e entre Artuzinho e André se fez uma aposta de que o primeiro traria novas resoluções em três dias. Logo Artuzinho procurou pela menina que ajudava o morador do manicômio e os dois saíram juntos. Até que ele lhe contou que sabia que ela levava comida para o louco da Casa Verde.
A menina chamava-se Lúcia e era a filha do louco, na verdade ele era bisneto de Simão que tinha se apaixonado por Ana, uma mulher que cuidava dele na Casa Verde e a engravidara. Mas Simão morrera antes do nascimento da criança e hoje seu bisneto se tornara de tão modo fascinado pela sua história que fora morar no manicômio, vivendo da ajuda da esposa e da filha que só recebia quando ia vestida como no século XIX.
Artuzinho só contou as novidades a Leo e ao seu pai. Como o seu pai era médico indicou ao filho que fosse conversar com um psiquiatra, amigo seu, sobre o homem da Casa Verde. O psiquiatra explicou que só poderia agir com o consentimento do próprio homem ou da família dele.
Sendo assim, Artuzinho procurou Lúcia e lhe falou sobre o psiquiatra. A menina ficou de decidir e já estava indo embora quando André a segurou exigindo que Artuzinho a apresentasse, já que queria as partes boas daquela história de clube. Logo os dois brigaram quando a menina foi embora e depois da briga só Artuzinho ficou, e como a presença de um morador na Casa Verde fora mencionada, um repórter da cidade que estava ali se interessou pela história, tentou arrancá-la de Artuzinho, mas não conseguiu.
No dia seguinte, como para fazer as pazes e pôr a par os amigos, uma nova reunião foi convocada, no entanto Pedro Bola chegou com a notícia de que havia uma multidão na frente da Casa Verde e que o repórter iria revelar o segredo do manicômio. Porém, antes que as portas lacradas fossem abertas, Artuzinho e seus amigos, juntamente com Lúcia e o Psiquiatra, chegaram e intervieram.
No entanto, um rapaz exigiu saber o segredo e como tinha grande porte físico foi passando por todos, mas nesse momento Jorge, o morador da Casa Verde, saiu de lá e parecia em total domínio de sua lucidez.
O assunto foi explorado, mas não deu em nada. A Casa Verde foi dividida, metade transformou-se em clube, como os rapazes queriam, e outra em uma espécie de museu a Machado de Assis, onde uma sala foi mantida com exemplo dos hospícios da época e uma área onde Jorge, que era tratado pelo psiquiatra, encenava a história do Alienista e seu romance com Ana. E como era de se esperar, Artuzinho e Lúcia começaram a namorar.
Por Rebeca Cabral