Dia do Índio: cresce número de indígenas no ensino superior

Quantidade de ingressantes saltou de 2.723, em 2010, para 25.670, em 2017. Lei de Cotas ajudou.

Em 19/04/2019 07h00
Por Lorraine Vilela Campos , Adriano Lesme , Adriano Lesme
Crédito da Foto: Nailana Thiely / Ascom UEPA
Crédito da Imagem: Nailana Thiely / Ascom UEPA

Uma pesquisa realizada na véspera do Dia do Índio, que é celebrado nesta sexta-feira, 19 de abril, mostra o crescimento do número de indígenas no ensino superior. Desde 2010, houve um aumento de 842% no número de estudantes indígenas nos cursos de graduação, passando de 2.723 para 25.670 alunos. No mesmo período, o crescimento geral de estudantes foi de 48%.

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Os dados disponíveis no Censo da Educação Superior foram analisados pela equipe do Quero Bolsa. O levantamento traz os números de 2010 a 2017 e permite conhecer o perfil do estudante indígena que ingressa no ensino superior brasileiro. 

Cotas

O principal motivo do crescimento do número de indígenas nas universidades é a Lei de Cotas. As cotas da legislação federal são exclusivas para estudantes de escolas públicas e, dentro de suas subdivisões, há a categoria por etnia (pretos, pardos e indígenas). 

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Inicialmente, a reserva para cotistas era de 12,5% do total de vagas das instituições. Em 2016, as cotas subiram para 50% das oportunidades, as quais se subdividem, ainda, por renda e etnia. O pico do ingresso de indígenas se deu em 2016, ano da redefinição das cotas:

ANO Porcentagem do Total de Estudantes
2010 0,12%
2016 0,87%
2017 0,79%


A estudante indígena Maritana Neta, de 35 anos, está no quarto semestre do curso de Engenharia Civil na Bahia e sonha em voltar para sua aldeia depois de formar. Filha de índio da tribo Kariri-Guaranu, já extinta, morou dos 12 aos 19 anos na aldeia da madrasta, de origem Tuxá.

"Fui reconhecida pelo povo Tuxá e quero voltar para ajudá-los em construções ecólogicas e soluções sustentáveis para a aldeia" (Maritana Neta)

Maritana faz Engenharia Civil em Valença, na Bahia

Maritana revela que é difícil para um indígena sair da aldeia para cursar faculdade, principalmente devido ao custo das mensalidades. "Eu consegui uma bolsa de 50%, que me permite estudar e arcar com gastos como transporte e livros, mas muitos não conseguem", diz Neta, como prefere ser chamada. Ela morava na ilha de Morro de São Paulo e se mudou para o município de Valença para estudar.

Uma outra dificuldade relatada por Neta é a falta de boas escolas perto das aldeias, o que deixa os indígenas em desvantagem com os demais estudantes. "Por isso, considero a Lei de Cotas e vestibulares específicos para indígenas muito importantes, pois competimos com candidatos com as mesmas condições".

Vestibulares para Indígenas

Como a procura por vagas em instituições de ensino superior tem crescido nos últimos anos, diversas universidades contam com seus vestibulares específicos para indígenas. Uma característica importante de tais provas é a valorização da cultura indígena na seleção, já que é comum a aplicação da redação em diferentes dialetos e análise das experiências de vivência nas comunidades e aldeias. 

Um dos primeiros e mais tradicionais vestibulares específicos é o Vestibular dos Povos Indígenas do Paraná, processo seletivo que tem a oferta de vagas em diferentes universidades públicas paranaenses, como a UFPR, UEM, Unicentro e UEPG.

A Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) também tem tradição na realização do Vestibular para Indígenas, enquanto a Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) - uma das mais concorridas do país - aderiu ao processo seletivo indígena recentemente. 

Outras instituições que realizam provas específicas são Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS); Universidade Federal do Pampa (Unipampa); Universidade Federal de Rondônia (Unir) e Universidade de Brasília (UnB). Há, ainda, as faculdades e universidades que reservam parte de suas vagas (fora da lei de cotas) para estudantes indígenas. 

Cursos mais procurados

Os cursos mais procurados pelos estudantes indígenas mudam de acordo com a modalidade de ensino - presencial ou a distância. Confira!

Presenciais

1. Direito

2. Enfermagem

3. Administração

4. Psicologia

5. Pedagogia

6. Farmácia

7. Fisioterapia

8. Engenharia Civil

9. Ciências Contábeis

10. Educação Física

 

EaD

1. Pedagogia

2. Ciências Contábeis

3. Administração

4. Nutrição

5. Gestão de Pessoal / Recursos Humanos

6. Formação de Professor de Língua/Literatura Estrangeira Moderna

7. Empreendedorismo

8. Engenharia Civil

9. Formação de Professor de Língua/ Literatura Vernácula (português)

10. Formação de Professor de Matemática

Mobilização

Outro fator fundamental para o acesso dos estudantes indígenas ao ensino superior está na mobilização da Fundação Nacional do Índio (Funai). A oferta de oportunidades em todos os níveis do ensino, de forma pública, é peça-chave para que a população indígena possa prosseguir com seus estudos e vislumbrar a formação acadêmica. 

Parte dos estudantes indígenas encontram dificuldade em continuar os estudos por motivos financeiros e sociais. A população indígena, em sua maioria, encontra-se em áreas de acesso mais restrito e a rotina das universidades exige uma mudança na vida do aluno. Além disso, tais universitários ainda encontram barreiras linguísticas e chegam ao sofrer com o preconceito no ambiente acadêmico.

Para auxiliar a manutenção de estudantes universitários que não têm condições financeiras, o Ministério da Educação (MEC) conta com o Programa Bolsa Permanência. Para os indígenas, o valor do auxílio estudantil é de R$ 900 e pode ser solicitado por quem estuda em instituições públicas ou privadas.