Entrevista: O que é e quais são os benefícios da experiência intercultural?
Ter experiência com diferentes culturas é um dos principais atrativos para estudar no exterior.
Estudar no exterior é, de fato, uma experiência internacional maravilhosa. Mas ela é automaticamente intercultural? Apesar de serem usadas como sinônimo e estejam interligadas, as duas são coisas diferentes. Aliás, você sabe o que isso significa?
Uma experiência intercultural requer preparo e, quando bem-sucedida, traz enormes benefícios à sua vida. Para entender melhor sobre o assunto, conversamos com Karen Góes, psicóloga especialista em Gestão Estratégica de Pessoas e fundadora de uma empresa de Desenvolvimento Intercultural.
O que difere a experiência intercultural da internacional? Toda experiência internacional é necessariamente intercultural?
Entendemos que a experiência internacional e intercultural, embora estejam relacionadas, não são sinônimos. Nem toda experiência internacional (de contato com um outro país, uma outra cultura) é, necessariamente, uma experiência intercultural.
A experiência intercultural vai além do simples contato com outra cultura e envolve, entre outros fatores, curiosidade, troca, interesse genuíno pelo outro, reconhecimento das diferenças, respeito e aprendizado.
Assim, uma experiência intercultural se torna mais enriquecedora, reconhecendo outros valores, comportamentos e visões de mundo que possam ser diferentes.
Por que ter uma experiência intercultural ajuda no desenvolvimento pessoal do estudante, em especial na fase da adolescência?
A experiência intercultural tem um grande potencial para auxiliar na aquisição e desenvolvimento de diversas habilidades em todas as faixas etárias.
Em especial na fase da adolescência, os estudos científicos na área da psicologia intercultural nos apontam que estas aquisições podem ser ainda mais significativas e profundas pois se trata de uma fase da vida na qual a formação da identidade e do desenvolvimento está em um dos momentos mais importantes. A adolescência é, naturalmente, uma fase de transição, descobertas e identificações.
Outro ponto que também cabe destacar é em relação à forma cultural como pais de outros países (como Estados Unidos, Canadá, Austrália e Nova Zelândia, para citar alguns) tendem criar e educar os filhos, principalmente incentivando a independência e autonomia dos adolescentes.
No Brasil, notamos que geralmente os pais tendem a adotar comportamentos mais voltados à superproteção. Assim, a convivência do adolescente em uma família (pois normalmente as acomodações durante o intercâmbio na adolescência são junto a famílias hospedeiras) com uma realidade cultural diferente, certamente tem potencial de trazer grande riqueza ao desenvolvimento do adolescente.
Devido à situação atual, os intercâmbios tiveram de ser adiados. Como usar esse tempo para se preparar adequadamente para uma experiência intercultural a fim de diminuir o choque cultural inicial, agilizar a adaptação e aproveitar ao máximo o tempo no exterior quando for seguro novamente?
Considero este um ótimo período para se preparar para esta vivência. E o estudante pode fazer isso de diversas formas. Dentre elas, destaco:
1. Estudar o idioma do país que pretende viajar: não é preciso, necessariamente ter um nível de idioma fluente, mas sabemos que a habilidade de se expressar no idioma local está diretamente ligada a adaptação (pois impacta nos relacionamentos sociais, na vida escolar e na rotina do estudante).
2. Exercitar a curiosidade: pesquisar e conhecer mais sobre o país que pretende estudar: sua história, costumes, cultura, enfim, ter informações e conhecimento sobre o destino vai auxiliar no processo de adaptação no futuro.
3. Além de conhecer mais sobre o outro (a cultura e o país), é fundamental conhecer mais sobre si. Exercitar o autoconhecimento é compreender quais são as suas forças e qualidades, ter a clareza dos seus objetivos em estudar fora, compreender como lida com mudanças, com o imprevisto entre outros elementos. Desbravar o mundo interno certamente auxiliará o estudante a desbravar o mundo lá fora.
4. Treinamento Intercultural: essa é uma excelente ferramenta para auxiliar no processo de preparação para uma experiência no exterior. Compreender e desenvolver ferramentas para lidar com a adaptação, o stress cultural, as diferenças culturais, os sentimentos envolvidos contribuem para que o jovem embarque mais confiante, seguro e preparado e assim esteja mais capacitado para lidar com os desafios e usufruir melhor a experiência intercultural.
Como a sua jornada pessoal te levou a compreender a importância da experiência intercultural?
Sou neta de imigrantes poloneses e acredito que a presença de outras culturas está marcada na minha história. Com 15 anos tive o desejo e fui estudar um ano do ensino médio na Nova Zelândia e vivenciar uma experiência cultural imersiva.
De lá para cá já foram 5 intercâmbios de estudo e trabalho onde estudei e trabalhei com pessoas de diversas culturas.
Uma experiência intercultural nos convida a adquirir e desenvolver habilidades que nos serão úteis durante a vivência no exterior, mas certamente fundamentais para a vida.
Hoje percebo a relevância de aprimorar e exercitar essas habilidades também no meu no dia a dia. Somos convidados a lidar com diferenças (assim como no intercâmbio) diariamente. Conversar com pessoas com posicionamentos diferentes dos meus, exercitar a empatia com um vizinho e até mesmo trabalhar (presencialmente ou virtualmente) com pessoas de diversos lugares do mundo e portanto, com valores e comportamentos diferentes. Assim, a minha experiência pessoal certamente me ajuda e me convida diariamente a continuar exercitando essas habilidades para construir relacionamentos mais saudáveis e positivos.