Nelson Mandela e seu legado na África do Sul
A vida de Nelson Mandela foi marcada pela luta contra o apartheid e pela união de brancos e negros na África do Sul.
Em 05 de dezembro de 2013 morreu, aos 95 anos, Nelson Mandela, o mais conhecido dos opositores ao apartheid na África do Sul, o regime de segregação racial que vigorou oficialmente no país entre as décadas de 1940 e 1990. A morte de Madiba, um dos apelidos dado à Mandela, foi procedida de um longo funeral que se estendeu até o dia 15 de dezembro, mobilizando grande parte da população sul-africana e chefes de governos de vários países do mundo.
Uma chefe de governo presente no funeral foi a presidenta do Brasil, Dilma Rousseff. Em seu discurso, Dilma destacou o legado e a importância de Mandela para a luta pelos direitos humanos e o impacto que essa luta teve no mundo, transcendendo as fronteiras da África do Sul, principalmente as ações efetuadas no sentido de se alcançar uma reconciliação nacional e a construção de um novo país.
Nelson Mandela nasceu em 1918, em Transkei, com o nome de Rolihlahla Mandela. Filho de um casal oriundo de famílias aristocráticas, Mandela perdeu o pai muito cedo. Entretanto, isto não impediu que Mandela tivesse uma formação baseada nos valores culturais europeus e africanos. A passagem por uma instituição de ensino cristã, o levou a adotar o nome de Nelson.
Sua vida política se iniciou na década de 1940, após ter se tornado advogado. Em 1942 fundou a liga jovem do Congresso Nacional Africano (CNA), pretendendo organizar a juventude negra contra o regime do apartheid na África do Sul.
O regime do apartheid, termo que significa segregação, iniciou-se na África do Sul após a chegada ao poder do Partido Nacional Africânder, formado pelos brancos protestantes de ascendência holandesa que habitavam o país. Antes da institucionalização, práticas de segregação racial eram utilizadas no país desde o período da colonização.
Ao se transformar em regime de Estado, a negação de direitos sociais, políticos e econômicos aos negros se tornou oficial na África do Sul. O intuito era realizar uma segregação total entre brancos e negros, seja em relação à ocupação dos espaços geográficos urbanos, seja no acesso às terras cultiváveis ou às áreas de riquezas naturais. Chegou a ser formado na África do Sul os bantustões, estados tribais destinados a manter a segregação, e levar estas tribos a se auto-organizar.
A luta inicial de Mandela e seus companheiros contra o apartheid baseou-se na atuação pacífica através da desobediência civil. Entretanto, a luta tomaria outro rumo na década de 1960. O estopim foi a intensificação da repressão do Estado contra os opositores do apartheid e, principalmente, o Massacre de Shaperville, em 1960, quando cerca de 69 pessoas morreram ao se manifestarem contra a obrigatoriedade de portar cartões de identificação que limitavam seu deslocamento entre as áreas destinadas a brancos e negros.
A partir daí o CNA, e também Nelson Mandela, adotaram a luta armada como forma de enfrentamento do regime racista da África do Sul. Com a constituição, em 1961, do Umkhonto weSizwe, o braço armado do CNA, foram realizadas várias ações de sabotagem, como o ataque a usinas hidrelétricas, por exemplo. O CNA foi posto na ilegalidade, e seus líderes seriam presos nessa nova onda repressiva. Mandela foi pego pelas forças policiais em 1963, sendo condenado à prisão perpétua pelo julgamento de Rivonia, em 1964.
Representação de Mandela em mural na cidade de Barcelona, Espanha **
Nelson Mandela passou 27 anos na prisão. Durante esse período as pressões internacionais contra o regime racista do apartheid ganharam maior volume, à medida que a repressão incidia sobre as manifestações dos negros, contrários ao regime. Um desses momentos foi o levante de Soweto em 1976. Ao mesmo tempo a notoriedade de Mandela também crescia, devido a seu longo cativeiro e as denúncias feitas através de cartas dificilmente escritas, e clandestinamente enviadas para fora da prisão.
As políticas reformistas pelo fim do apartheid se iniciaram no fim da segunda metade da década de 1980, devido aos diversos boicotes à África do Sul, fossem eles econômicos ou mesmo esportivos. No governo de Frederik de Klerk, na década de 1990, o apartheid foi oficialmente extinto, levando Nelson Mandela à liberdade.
A figura política de Mandela à frente do CNA foi de extrema importância para evitar uma guerra civil na África do Sul. A violência em ambos os lados aumentou no início da década de 1990, ocorrendo diversas chacinas e massacres, principalmente contra os negros. Houve uma polarização entre o CNA e o Inkhanta, um grupo nacionalista da etnia zulu, que lutava pela criação de estados separados entre brancos e negros.
A atuação de Nelson Mandela e do CNA foi essencial para garantir a unidade territorial da África do Sul. A ação de Mandela legou a ele o prêmio Nobel da Paz, em 1993, e vitória nas eleições presidenciais em 1994. Mandela governou até 1999, ancorado principalmente em políticas sociais e habitacionais que atendessem a população negra da África do Sul. Uma nova constituição foi promulgada, garantindo a estabilidade política no país. Era uma tentativa de acabar com o legado histórico do apartheid e criar uma democracia representativa.
Estátua de Nelson Mandela em praça que leva seu nome em Jhoannesburgo, África do Sul ***
Após sua saída do governo, Mandela passou a se dedicar à criação de uma milionária fundação que leva seu nome, atuando no auxílio a crianças e portadores do vírus HIV.
Por outro lado, a ascensão do CNA e de Mandela ao poder levou à formação de uma nova elite econômica no país. O acesso a cargos públicos se tornou uma forma de conseguir uma ascensão econômica e social, principalmente através da corrupção. A família Mandela foi um dos grupos beneficiados com essa situação. São mais de 200 empresas com envolvimento na direção de parentes do líder sul-africano.
No aspecto social, o fim do apartheid não resolveu a maioria dos problemas da população trabalhadora do país. À época do falecimento de Mandela, o desemprego continuava alto, e a inflação era mais intensa para as camadas pobres da população sul-africana. A repressão contra os trabalhadores que se opõe a esta situação tem sido também intensa, como demonstra a repressão à greve dos mineiros de Marikana, em agosto de 2012, que resultou na morte de 44 trabalhadores. No que se refere à repressão, ironicamente, parece que a atuação do CNA conseguiu superar a segregação do apartheid, já que negros e brancos atuam de forma igual dentro das forças policiais sul-africanas.
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