Publicitário

Por Adriano Lesme

Henrique Morici, professor do Unipli
Henrique Morici, professor do Unipli
Imprimir
Texto:
A+
A-
PUBLICIDADE

Ser Publicitário: subindo nas cadeiras com fogo no rabo

A cena é emblemática: o professor de Literatura de uma renomada e tradicional instituição de ensino médio, nos Estados Unidos dos anos 50, pede aos alunos que, simplesmente, subam em suas cadeiras e digam o que veem. Você pode ter reconhecido a cena do filme, “Sociedade dos Poetas Mortos” (Peter Weir, 1989), hoje, um clássico do cinema. O que talvez não entenda, ou não se lembra, é com que intenção o professor pediu isso à turma, que relutantemente obedeceu.

Você pode não acreditar, mas esta atitude, de “subir na cadeira”, tem muito a ver com ser publicitário. Nada a ver com rebeldia pela rebeldia. Mas a rebeldia com razão, objetivo, como estímulo para uma finalidade, que é vender um produto, serviço ou marca através de uma peça de comunicação.

Explica-se: hoje, somos bombardeados a todo o momento por milhares de informações vindas de todos os lugares e de todos os tipos de mídia (TV, rádio, jornal, revista, outdoor, e-mail, mensagens SMS, aplicativos de celulares, redes sociais, amigos etc.). Então, qual é aquela que realmente chama a sua atenção? Para isso, o publicitário “sobe na cadeira” e tenta solucionar o problema – que é vender aquele produto, serviço ou marca para você – com uma visão diferenciada, que se sobressaia.

Então, ser publicitário é estar procurando sempre novas visões e olhares para invadir a mesmice da vida rotineira de todos os consumidores. Sim, invadir. Sim, rotineira. Porque todos os dias fazemos sempre as mesmas coisas e nem percebemos: levantamos do mesmo lado da cama; escovamos os dentes do mesmo jeito; fazemos o mesmo caminho para escola ou trabalho, saltando sempre no mesmo ponto de ônibus; comemos o mesmo tipo de comida etc. etc. etc. Ou seja, rotina. E a propaganda para ser eficaz precisa invadir a vida do consumidor, quebrando os obstáculos do “dèja vu”.

Ser publicitário é ser curioso, prestar atenção a tudo que o cerca, anotar ideias; saltar um ponto de ônibus antes ou depois e observar o caminho que ainda não conhecia; escovar os dentes com a outra mão para sentir a dificuldade ou descobrir algo que não tinha percebido; experimentar uma comida diferente para sentir o sabor, a sensação. E tudo com a intenção de achar uma visão nova da mesma coisa para chamar a atenção do consumidor. E isso a cada trabalho, todos os dias.

Não pare agora... Tem mais depois da publicidade ;)

O mercado de trabalho está sempre procurando este profissional que, com todo o direito, pode ser chamado de criativo (porque com uma visão nova soluciona um problema). Assim, terá mais oportunidades de colocação profissional aquele que mais “subir na cadeira” ou estar atento ao que se passa à sua volta, e a imensa maioria das pessoas não percebe. Boas ideias são necessárias em toda cadeia produtiva da publicidade. Nas agências de publicidade, precisa-se de gente criativa não só na Criação, mas também na Mídia, no Atendimento e na Produção, pois o cliente quer sempre novidade, ser surpreendido. Nos veículos (rádio, jornal, TV, empresas de Internet), pessoas que tragam propostas diferenciadas para que a mídia chegue melhor e mais fácil ao seu público. Nos fornecedores (gráfica, empresas de brindes, eventos etc.), gente que contribua com novos serviços para sair da mesmice que se oferece todos os dias. E, finalmente, nos clientes, funcionários que “subam nas mesas” e vejam lá de cima como agregar valor àquele produto, serviço ou marca, diferenciando-o da concorrência, chamando mais atenção do consumidor.

Na história lá do início, a intenção do professor de Literatura era que seus alunos saíssem da mesmice de ver tudo ao nível do chão e, de um novo patamar, descobrir lá em cima o que embaixo não se percebia. Ou, ainda, como declarou uma vez o publicitário carioca Lula Viera, ao receber um prêmio de criação – uma coruja com uns ornamentos nos pés que mais pareciam chamas: “esse prêmio representa bem o que é ser publicitário – prestar muita atenção como a coruja e trabalhar com fogo no rabo”.

Você, que vai fazer vestibular para Publicidade e Propaganda, é esse o seu caso?