Toxoplasmose e os riscos da falta de informação

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A falta de informação é a principal causa de abandonos de gatos. Apenas 1% dos felinos é transmissor

Stella Dalcin passou sua gravidez em contato com mais de 50 gatos

Os principais problemas enfrentados pelas populações começam sempre pela dificuldade de comunicação. Mitos que se propagam, senso comum que predomina e a falta de informação, aliados ao comodismo de grande parte da sociedade, são responsáveis por prejuízos irreparáveis a níveis de saúde pública.

O abandono de animais é hoje um caso de saúde pública. Milhares de cães e gatos vivem nas ruas e se reproduzem desenfreadamente, resultando em um crescimento populacional sem controle e, consequentemente, propagando possíveis zoonoses.

Entre os animais domésticos, o gato, ainda hoje, está entre os mais abandonados. De acordo com dados da Associação Protetora e Amiga dos Animais (Aspaan) localizada no estado de Goiás, para cada três cães que chegam ao local, um é adotado, enquanto que para cada 20 gatos, apenas um consegue um lar.

Um dos principais motivos do grande número de abandonos de gatos está na crença de que o gato é o principal responsável pela transmissão da Toxoplasmose. De acordo com a designer Stella Dalcin, fundadora do Projeto Viva Gato, em Goiânia, a falta de informação sobre as reais causas da doença, muitas vezes motivadas por alguns médicos, é o que faz com que as gestantes se desfaçam de seus animais, equivocadamente. Outra característica reforçada pela protetora é o perigo em acreditar que apenas o animal é capaz de contaminar a pessoa, enquanto os riscos podem estar inclusive na alimentação.

A toxoplasmose é uma doença de natureza infecciosa, causada pelo protozoário Toxoplasma gondii, que pode ser adquirida através da ingestão acidental do oocisto presente nas fezes dos felinos; pela infecção transplacentária; além de carne e vegetais crus ou mal cozidos que contenham o protozoário e, em casos mais raros, pela transfusão de sangue e transplante de órgãos.

Apesar da atribuição de principal transmissor, apenas 1% dos gatos é responsável pelos casos. De acordo a médica Janete Guimarães, a má fama popular se dá pelo fato do felino ser o hospedeiro definitivo. Para a veterinária Helvídia Delfino, é muito difícil a transmissão apenas pelo contato com o animal, já que é preciso ingerir as fezes contaminadas pelos oocistos.

O ponto mais importante está na informação. É preciso conhecer as causas, sintomas e modos de prevenção para não cair no mito do gato como culpado. Pesquisas, textos médicos, informativos, entre outros, estão à disposição na internet.

As camadas mais pobres da sociedade são as mais afetadas pelo fenômeno da desinformação. A falta de acesso aos dados importantes, assim como a não orientação pelos profissionais de saúde e condições precárias de moradia, muitas vezes sem saneamento básico, facilitam a contaminação pela toxoplasmose, uma vez que os hábitos de higiene são as principais formas de prevenção.

Pequenos gestos podem prevenir o contágio, tais como: Lavar as mãos depois de manipular alimentos crus, assim como todos os utensílios e equipamentos que entram em contato com carne crua, com água e sabão; O cozimento também é importante, pois os cistos morrem a uma tempera­tura de 65ºC, mantida durante cinco minutos, aproximadamente; Usar luvas no manuseio da terra; Evitar levar as mãos sujas à boca; Eliminar as fezes dos gatos diariamente. A caixa de areia higiênica deve ser lavada com água fervendo, periodicamente, para destruir eventuais oocistos existentes; Cobrir tanques de areia que servem para a recreação de crian­ças para evitar que animais tenham acesso ao local.

A toxoplasmose e tratável com medicamentos e acompanhamento médico e, se detectada o quanto antes, tem cura. De acordo com a médica Janete Guimarães, em sua forma congênita, que ocorre em 40% dos casos, na qual a mãe conta­minada transmite a doença para o filho ainda na gestação, existe o risco de que a criança nasça com alguma deficiência e, em casos mais graves, há uma chance de 40% a 50% de mortes dos bebês infectados. O diagnóstico precoce é determinante para o tratamento.

Os conceitos pré-definidos são prejudiciais para a sociedade como um todo. Uma informação errada e com grande disseminação é capaz de trazer danos permanentes. Uma gestante que prefere acreditar nos mitos já estabelecidos contribui com um problema de saúde pública: o abandono. Com a falta de políticas públicas de conscientização, o número de animais nas ruas tem a tendência de crescer, o que pode acarretar no surgimento e alastramento de zoonoses.

Informação é fundamental para a vida em sociedade. É preciso se conscientizar para se despir dos preconceitos e dos mitos pré-estabelecidos.  

Por Lorraine Vilela