Morte de Fidel Castro

A morte de Fidel Castro pode ser um “gatilho” para reavivar debates sobre sua figura e sobre a Revolução Cubana, e isso pode repercutir nos vestibulares e no Enem.

Homenagem da embaixada cubana em Moscou a Fidel Castro*
Crédito da Imagem: Shutterstock

A morte de Fidel Castro Ruiz, que foi líder do Partido Comunista de Cuba, presidente e ditador do país caribenho, ocorreu em 25 de novembro de 2016. Morto aos 90 anos de idade, Castro foi o comandante-em-chefe da Revolução Cubana de 1959. Sua morte tende a reforçar os debates sobre a sua trajetória política no meio jornalístico, universitário, político e intelectual de forma geral. Do mesmo modo, os conteúdos escolares relacionados à sua figura, como os fatos antecedentes à  revolução, o próprio processo revolucionário de 1959, a adesão ao comunismo, entre outros aspectos, poderão ser recorrentes nos vestibulares e no Enem do próximo ano. 

Pensando nisso, selecionamos algumas questões elaboradas por universidades há alguns anos que abordaram esses temas. O objetivo é tentar vislumbrar o que poderá ser cobrado em questões futuras. 

Questões sobre Fidel Castro e a Revolução Cubana 

Vejamos a primeira questão, elaborada pela Fundação Getúlio Vargas (FGV):

Em janeiro de 1959, tropas revolucionárias comandadas por Fidel Castro tomaram o poder em Cuba. A luta revolucionária: 

a) foi dirigida por uma guerrilha comunista que pôde derrotar o exército de Fulgêncio Batista, graças ao apoio militar oferecido pela União Soviética.
b) foi dirigida pelo Partido Comunista de Cuba, que conseguiu mobilizar camponeses e trabalhadores urbanos contra a ditadura de Fulgêncio Batista. 
c) foi dirigida por dissidentes do governo de Fulgêncio Batista, com apoio inicial do governo dos Estados Unidos, interessado em democratizar a região do Caribe.
d) foi dirigida por uma guerrilha nacionalista e anti-imperialista, que angariou apoios da oposição burguesa e de setores da esquerda cubana.
e) foi dirigida por um movimento camponês espontâneo que, gradativamente, foi controlado pelos comunistas liderados por Fidel Castro. 

A alternativa correta dessa questão é a letra D. Explicamos o porquê: Fidel Castro só passou a ser declaradamente comunista a partir de 1961, seguindo uma linha especificamente de orientação marxista-leninista. E o Partido Comunista de Cuba (PCC) só foi criado em 1965. Antes disso, Castro havia entrado para a vida revolucionária, estabelecendo conexões com socialistas cubanos de orientação nacionalista e – como eles próprios diziam – anti-imperialistas, isto é, contrários à influência dos Estados Unidos na ilha. Além disso, o movimento revolucionário organizado por ele, Che Guevara, Raul Castro e outros no México, o Movimento Revolucionário 26 de Julho, teve tanto o apoio dos socialistas quanto o da burguesia cubana contrária ao governo de Fulgêncio Batista. 

Curiosamente, vale dizer que os comunistas cubanos (ligados à Internacional Comunista) apoiavam Batista e eram contrários a Fidel. Vale dizer também que foi da guerrilha montada por Castro, no México, que nasceu o foco que se instalou em Sierra Maestra, ao Sul de Cuba. O nome do movimento era 26 de Julho porque fazia referência ao Assalto ao Quartel Moncada, liderado por Fidel Castro e ocorrido nesse dia, no ano de 1953. 

Passemos à segunda questão, elaborada pela Universidade Federal do Paraná (UFPR):

A Revolução Cubana, liderada por Fidel Castro, estimulou a intelectualidade de esquerda na América Latina na busca por um futuro melhor para os povos latino-americanos.

Em relação à Revolução Cubana, é CORRETO afirmar que:

01. a tomada do palácio La Moneda deu início ao processo revolucionário em Cuba.
02. contou com a participação decisiva do grupo guerrilheiro de inspiração marxista chamado Sendero Luminoso.
04. no processo da Revolução, o governo corrupto e repressivo de Fulgêncio Batista foi derrubado do poder por meio de um golpe apoiado pelos EUA.
08. na década de 1950, a economia cubana, controlada por capital norte-americano, baseava-se fundamentalmente na produção de açúcar.
16. com a vitória da Revolução, empresas foram estatizadas e as propriedades rurais submetidas à reforma agrária. Em represália, os EUA suspenderam a compra do açúcar cubano, criando dificuldades econômicas e forçando Cuba a se aproximar da URSS.
32. teve início em 1959 e o seu significado para a América Latina equivale ao significado que a Revolução Russa (1917) teve para a Europa e a Revolução japonesa (1949) para a Ásia.

A resposta correta dessa questão é: 08 + 16 = 24. Novamente, a Revolução Cubana não foi, de início, um movimento comunista, no sentido estrito, mas uma mescla de tendências nacionalistas, socialistas e anti-imperialistas muito específicas. Desse modo, o número 32 pode ser excluído, visto que, ao contrário das revoluções russa e chinesa, não houve o emprego da estratégia comunista propriamente dita. 

O número 04 está incorreto pelo mesmo motivo, já que, sendo uma revolução anti-imperialista, o apoio dos EUA não existiu – salvo o apoio de alguns cidadãos cubanos radicados nos EUA à época. O número 02 está incorreto pelo fato de o grupo marxista Sendero Luminoso (também inspirado em Mao Tsé-Tung) ter aparecido no Peru, e não em Cuba, e em 1964, portanto, alguns anos após a Revolução Cubana. 

Já o fato descrito no número 01 também está incorreto porque não ocorreu em Cuba, mas, sim, em Santigo do Chile, em 1985 – tendo sido uma ação do grupo M-19, patrocinado pelo narcotraficante Pablo Escobar. As opções corretas, então, são as de número 08 e 16. 

Segue a terceira questão, elaborada pela Universidade Presbiteriana Mackenzie:

O episódio conhecido como “a crise dos mísseis”, de 1962, que pôs em grande risco a paz mundial, resultou da:
a) invasão do território sul-coreano pelo exército da Coreia do Norte, então apoiada pela União Soviética e pela China.
b) intervenção militar realizada pela URSS na Hungria, com a ocupação de Budapeste e a deposição de I. Nagy.
c) descoberta, pelos EUA, dos trabalhos de instalação de armas nucleares soviéticas em Cuba.
d) ereção de um muro em Berlim, pelo governo comunista, dividindo fisicamente a cidade e a República Democrática Alemã.
e) ruptura das relações diplomáticas entre a China e a URSS, em razão das acusações de “revisionismo” feitas pelo PCC a dirigentes soviéticos.

A alternativa correta da questão é a letra C. O episódio da “Crise dos Mísseis” é um dos mais emblemáticos da Guerra Fria e, especificamente, da história de Cuba no tempo de Castro. A crise  desencadeou-se após a descoberta, por parte dos EUA, em outubro de 1961, de instalações de mísseis balísticos de médio alcance em solo cubano contendo ogivas nucleares. As instalações foram feitas pela URSS, mediante acordo entre Nikita Krutschev e Fidel Castro, como forma de fazer pressão geopolítica no continente americano. O mundo esteve à beira de uma guerra nuclear, mas o impasse foi resolvido com um acordo definido em 28 do mesmo mês: os EUA prometeram não alimentar nenhuma tentativa contrarrevolucionária contra Cuba, como foi a invasão da Baía dos Porcos, bem como se comprometeu a retirar mísseis balísticos de mesmo teor de bases da Turquia. 

Vejamos a quarta e última questão, elaborada pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ):

A partir da década de 1990, a resistência à hegemonia dos EUA na América Latina se fortaleceu com o surgimento de lideranças nacionais que constituem a chamada "nova esquerda latino-americana". O ano de 2008 colocou um ponto de interrogação nesse processo, o que pode ocasionar mudanças capazes de enfraquecer essa composição política.

Essa nova conjuntura está relacionada a possíveis alterações em:
a) sistema econômico cubano com a renúncia de Fidel Castro
b) política externa boliviana com a vitória eleitoral de Evo Morales
c) regime tarifário brasileiro com a retomada do diálogo entre os países do Mercosul
d) estrutura agrícola paraguaia com a ação das forças de direita do governo recém-eleito

A alternativa correta é a letra A. Há a referência direta ao fato da Renúncia de Fidel Castro, que ocorreu em 19 de fevereiro de 2008 por alegados motivos de saúde. A renúncia foi informada pelo  jornal oficial do Partido Comunista de Cuba, o Granma. No lugar de Castro, assumiu o seu irmão, Raul, que, junto ao presidente estadunidense, Barack Obama, anunciou, em 17 de dezembro de 2014, a retomada de relações diplomáticas entre os dois países. Isso implicou os seguintes pontos, entre outros tantos: autorização de vendas e exportações de bens e serviços dos EUA para Cuba, início de auxílio a Cuba na área de telecomunicações e internet e a facilitação da viagem de americanos a Cuba. 

* Créditos da imagem: Shutterstock e Urban Reporter