Desmatamento e queimadas na Amazônia

Maior floresta tropical do mundo sofre com o maior número de focos de incêndio dos últimos nove anos.

Equipe tenta apagar queimadas no sudoeste do Pará. [1]
Crédito da Imagem: shutterstock

O mês de agosto moveu as atenções do mundo inteiro para a Amazônia. A maior floresta tropical do mundo registrou um aumento de 196% dos focos de incêndio em relação ao mesmo período no ano anterior. Os dados são do Programa Queimadas, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). Ao todo foram considerados mais de 30 mil focos ativos somente em agosto, sendo o maior número nos últimos nove anos.

Veja também: Com quase 31 mil focos, agosto termina com triplo de queimadas na Amazônia

A crise no país começou assim que o Inpe divulgou os dados do aumento do desmatamento na região durante o mês de julho. O diretor do instituto, o físico Ricardo Galvão, teve desgastes com o presidente Jair Bolsonaro e com o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles. Bolsonaro contestou os dados do Inpe e alegou que Galvão estaria prestando serviço a alguma ONG, enquanto o diretor defendeu os dados da pesquisa e também criticou a atitude do presidente. No dia 2 de agosto, Galvão foi exonerado.

Dia do Fogo”

No meio de toda a confusão, os problemas com as queimadas começaram a se agravar ainda mais no dia 10 de agosto. Por meio de um grupo no WhatsApp, alguns agricultores e grileiros (nome dados às pessoas que fazem grilagem de terras, isto é, falsificação de documentos para, ilegalmente, tomar posse da terra), no Pará, programaram incendiar áreas da floresta. A data ficou conhecida como “Dia do Fogo” e a ação está sendo investigada pela polícia. De acordo com integrantes do grupo, o motivo dos incêndios era chamar a atenção dos governantes, alegando que trabalham sem apoio do governo.

O fato é que, após o dia 10, as queimadas aumentaram, principalmente no Pará, nos municípios de Novo Progresso, Altamira e São Félix do Xingu. Em Altamira, o aumento foi de 179% dos focos. Em Novo Progresso e São Félix do Xingu, as queimadas aumentaram em mais de 300%, de acordo com imagens do satélite do Inpe.

Além do Pará, os dados mostraram que o crescimento das queimadas também afetou outros estados: Mato Grosso do Sul, Acre, Amazonas, Rondônia e Tocantins.

Com o número de queimadas aumentando, a Nasa, agência do governo dos Estados Unidos, divulgou imagens de um satélite mostrando o aumento dos incêndios na floresta. A repercussão foi aumentando pelo mundo, manifestações começaram a ser realizadas fora do país e o apelo de populares, celebridades mundiais e governantes aumentou a pressão em cima do governo por uma solução para conter as queimadas. Nas redes sociais, a hashtag #PrayForAmazonia (Ore pela Amazônia) foi uma das mais citadas em todo o mundo durante uma semana.

Conflito: Bolsonaro x Macron

Os problemas diplomáticos começaram quando o presidente da França, Emmanuel Macron, pediu em suas redes sociais que a situação da Amazônia entrasse na pauta da reunião do G7 (grupo de países com as economias mais fortes do mundo), que aconteceu nos dias 24 e 25 de agosto, afirmando que a situação caracterizava uma crise internacional. No mesmo dia, como resposta, o presidente do Brasil lamentou a postagem de Macron, afirmando que, por interesses políticos próprios, o francês estava tentando internacionalizar um problema do Brasil e de países que compõem a Amazônia.

A troca de ‘farpas’ continuou. Macron disse que Bolsonaro mentiu sobre compromissos ambientais durantes encontro do G20 (grupo formado pelas 19 maiores economias do mundo mais a União Europeia) e, por isso, Macron colocou-se como contra o acordo entre a União Europeia e o Mercosul.

No meio de todo o contexto, em rede social, Bolsonaro fez piada em uma postagem que comparava a primeira-dama brasileira e francessa. O presidente da França classificou a atitude como "triste” e comentou que espera que "os brasileiros tenham um presidente que se comporte à altura.”

Após a reunião, o G7 chegou a um acordo e decidiu liberar US$ 20 milhões para ajudar a combater as queimadas na floresta. Porém, até o momento, a ajuda ainda não foi aceita pelo Brasil. Os governadores do Amazonas, Pará e Roraima manifestaram interesse na ajuda do G7, mas o presidente Jair Bolsonaro disse que só aceitaria o valor caso Macron se desculpasse sobre as acusações feitas a ele.

Consequências das queimadas

A Amazônia possui 5,5 milhões de km², sendo 4,19 milhões de km² pertencentes a nove estados brasileiros: Acre, Amapá, Amazonas, Pará, Roraima, Rondônia, Mato Grosso, Maranhão e Tocantins. A outra parte está localizada na Bolívia, Colômbia, Equador, Guiana, Guiana Francesa, Peru, Suriname e Venezuela. Considerada a região de maior biodiversidade do mundo e o maior bioma do Brasil, a Amazônia envolve a bacia hidrográfica do Rio Amazonas e a Floresta Amazônica.

Confira um mapa mental do bioma Amazônia:

*Para baixar o mapa mental em PDF, clique aqui!

Em agosto, as queimadas atingiram 24.944 km² do bioma, segundo o Inpe. A área afetada é quatro vezes maior do que a do ano anterior, que foi de 6.048 km². Desde 2010, quando a região passou por uma seca e teve 43 mil km² de áreas queimadas, a floresta não passava por um desastre de tamanha dimensão.

Veja a área de queimadas nos meses de agosto na Amazônia:

Ano

Km²

2019

24.944

2018

6.048

2017

17.630

2016

15.462

2015

15.365

2014

15.773

2013

6.271

2012

15.856

2011

6.630

2010

43.187


Veja também: Consequências do desmatamento

Como isso pode aparecer em vestibulares e no Enem?

Sabendo da importância da Amazônia para o Brasil e o mundo, é importante ficar atento a como os assuntos relacionados à degradação da região podem ser cobrados tanto nas provas do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) como nos vestibulares do país.

Por isso, as professoras de Biologia (Vanessa Sardinha) e Geografia (Rafaela Sousa) do Brasil Escola destacaram como o tema pode ser abordado em questões de provas.

Veja a seguir:

  • Biologia

Quando falamos em Amazônia, não podemos nos esquecer de citar sua ampla biodiversidade. A grande variedade de espécies faz desse bioma uma das grandes riquezas da humanidade. Diante de sua importância, não é difícil compreender por que o tema é tão relevante para o Enem e vestibulares.

O tema biodiversidade já foi abordado em várias questões do Enem. Uma questão bem marcante sobre o tema estava presente na prova de 2003 e, apesar de ser de uma prova bastante antiga, a abordagem é bem atual. Veja a questão a seguir:

(Enem 2003) A biodiversidade diz respeito tanto a genes, espécies, ecossistemas, como a funções, e coloca problemas de gestão muito diferenciados. É carregada de normas de valor. Proteger a biodiversidade pode significar:

– a eliminação da ação humana, como é a proposta da ecologia radical;

– a proteção das populações cujos sistemas de produção e cultura repousam num dado ecossistema;

– a defesa dos interesses comerciais de firmas que utilizam a biodiversidade como matéria-prima, para produzir mercadorias.

(Adaptado de GARAY, I. & DIAS, B. Conservação da biodiversidade em ecossistemas tropicais)

De acordo com o texto, no tratamento da questão da biodiversidade no Planeta,

(A) o principal desafio é conhecer todos problemas dos ecossistemas, para conseguir protegê-los da ação humana.

(B) os direitos e os interesses comerciais dos produtores devem ser defendidos, independentemente do equilíbrio ecológico.

(C) deve-se valorizar o equilíbrio do meio ambiente, ignorando-se os conflitos gerados pelo uso da terra e seus recursos.

(D) o enfoque ecológico é mais importante do que o social, pois as necessidades das populações não devem constituir preocupação para ninguém.

(E) há diferentes visões em jogo, tanto as que só consideram aspectos ecológicos quanto as que levam em conta aspectos sociais e econômicos.


Resolução: Letra e. Analisando atentamente a questão, podemos perceber que ela se volta para a importância de se proteger a biodiversidade e que essa preservação é necessária para o equilíbrio do meio ambiente e também para o equilíbrio econômico.

Outro ponto que merece destaque quando falamos da Amazônia é como sua destruição pode afetar até mesmo a saúde humana. A destruição do meio ambiente tem relação direta com o aumento de casos de determinadas doenças. A relação entre doenças e destruição ambiental também já foi questão de prova. Veja a seguir uma questão do Enem de 2012 que não aborda a questão da Amazônia propriamente dita, mas mostra as consequências do desmatamento:

(Enem 2012) A doença de Chagas afeta mais de oito milhões de brasileiros, sendo comum em áreas rurais. É uma doença causada pelo protozoário Trypanosoma cruzi e transmitida por insetos conhecidos como barbeiros ou chupanças.

Uma ação do homem sobre o meio ambiente que tem contribuído para o aumento dessa doença é:

(A) o consumo de carnes de animais silvestres que são hospedeiros do vetor da doença.

(B) a utilização de adubos químicos na agricultura que aceleram o ciclo reprodutivo do barbeiro.

(C) a ausência de saneamento básico que favorece a proliferação do protozoário em regiões habitadas por humanos.

(D) a poluição dos rios e lagos com pesticidas que exterminam o predador das larvas do inseto transmissor da doença.

(E) o desmatamento, que provoca a migração ou o desaparecimento dos animais silvestres dos quais o barbeiro se alimenta.


Resolução: Letra e. Nessa questão, observamos a relação entre a destruição de habitat, perda de biodiversidade e o aumento de doenças.

Além da relação entre desmatamento e o aumento de algumas doenças causadas por vetores, não podemos nos esquecer também de que a destruição da floresta pode causar ainda outros problemas, como é o caso de doenças respiratórias provocadas pela fumaça das queimadas.

Leia também: A relação entre impactos ambientais e o surgimento de doenças

  • Geografia

Há um tempo, quando falávamos da Amazônia, tínhamos em mente uma região repleta de densas florestas, com uma enorme biodiversidade e intocável. Essa realidade modificou-se nas últimas décadas, especialmente pelas ações antrópicas, uma das principais causas da devastação do bioma atualmente.

Essa nova realidade refuta a ideia de região isolada e totalmente preservada. Sabemos que o bioma está hoje nos holofotes do mundo não só pela sua importância ambiental, mas também por suas potencialidades quanto aos recursos naturais disponíveis. Portanto, a interferência humana é uma das questões que podem ser abordadas no Enem e demais avaliações nacionais para o ingresso em universidades.

Veja como esse assunto foi abordado no exame em 2018:

(Enem 2018) Uma pesquisa realizada por Carolina Levis, especialista em ecologia do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia, e publicada pela revista Science, demonstra que as espécies vegetais domesticadas pelas civilizações pré-colombianas são as mais dominantes. “A domesticação de plantas da floresta começou há mais de 8000 anos. Primeiro eram selecionadas as plantas com características que poderiam ser úteis ao homem e em um segundo momento era feita a propagação dessas espécies. Começaram a cultivá-las em pátios e jardins, por meio de um processo quase indutivo de seleção”.

OLIVEIRA, J. Indígenas foram os primeiros a alterar o ecossistema da Amazônia. Disponível em: https://brasil.elpais.com. Acesso em: 11 dez. 2017 (adaptado)

O texto apresenta um novo olhar sobre a configuração da Floresta Amazônica por romper com a ideia de:

a) primazia de saberes locais.

b) ausência de ação antrópica.

c) insuficiência de recursos naturais.

d) necessidade de manejo ambiental.

e) predominância de práticas agropecuárias


Resolução: Letra b. O estudo apresentado por Carolina Levis sugere que a ação dos povos indígenas antes de 1492 foi essencial para o desenvolvimento das florestas. Os resultados obtidos demonstram que essa interferência humana está relacionada com a distribuição das plantas no bioma. Portanto, não houve ausência de ação antrópica na Amazônia.

Como já dito, a ação humana na Amazônia tem provocado inúmeras alterações, que podem causar consequências graves. Uma das ações é o intenso desmatamento de suas florestas, o que representa um enorme risco para o equilíbrio ambiental do planeta. Veja um exemplo de como essa problemática pode aparecer no Enem.

(Enem – 2011) A Floresta Amazônica, com toda a sua imensidão, não vai estar aí para sempre. Foi preciso alcançar toda essa taxa de desmatamento de quase 20 mil quilômetros quadrados ao ano, na última década do século XX, para que uma pequena parcela de brasileiros se desse conta de que o maior patrimônio natural do país está sendo torrado.

AB’SABER, A. Amazônia: do discurso à práxis. São Paulo: EdUSP, 1996.

Um processo econômico que tem contribuído na atualidade para acelerar o problema ambiental descrito é:

a) Expansão do Projeto Grande Carajás, com incentivos à chegada de novas empresas mineradoras.

b) Difusão do cultivo da soja com a implantação de monoculturas mecanizadas.

c) Construção da rodovia Transamazônica, com o objetivo de interligar a região Norte ao restante do país.

d) Criação de áreas extrativistas do látex das seringueiras para os chamados povos da floresta.

e) Ampliação do polo industrial da Zona Franca de Manaus, visando atrair empresas nacionais e estrangeiras.


Resolução: Letra b.

A alternativa a, apesar de citar uma das atividades que contribuem para o aumento do desmatamento na Amazônia, não apresenta o fator preponderante, visto que a mineração ocorre em uma escala local, com focos pontuais.

O desmatamento provocado pela construção da rodovia Transamazônica ocorreu especialmente no início da obra. As áreas próximas eram as mais afetadas. Todavia, atualmente, esse não é o principal motivo da aceleração do desmatamento.

A atividade extrativista do látex realizada por povos indígenas ou grupos de seringueiros gera pouco impacto ambiental negativo à Amazônia quando comparada a outras atividades antrópicas. Já a ampliação do polo industrial da Zona Franca de Manaus não é a causa do desmatamento acelerado, visto que as modificações decorrentes da ampliação estão relacionadas com a ocupação desordenada de algumas áreas, representando problemas urbanos.

Portanto, a resposta correta é a letra b. A expansão do agronegócio é, atualmente, a principal causa do desmatamento da Amazônia. As áreas desmatadas estão crescendo consideravelmente para dar lugar a áreas agricultáveis ou pastos.

Créditos da imagem:

[1] Divulgação: Comando Militar do Norte

Assista às nossas videoaulas