Um não à alienação

Por Marcos Oliveira Mendes

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Decidi discorrer sobre esse texto de Drummond, que, sob o meu ponto de vista, é uma verdadeira crítica à sociedade. Obs.: Esse texto já foi tema de um dos vestibulares da UFBA (Universidade Federal da Bahia).

A opinião em palácio

O Rei fartou-se de reinar sozinho e decidiu partilhar o poder com a Opinião Pública.
– Chamem a Opinião Pública – ordenou aos serviçais.
Eles percorreram as praças da cidade e não a encontraram. Havia muito que a Opinião Pública deixara de freqüentar lugares públicos. Recolhera-se ao Beco sem Saída, onde, furtivamente, abria só um olho, isso mesmo lá de quando em vez.
Descoberta, afinal, depois de muitas buscas, ela consentiu em comparecer ao Palácio Real, onde Sua Majestade, acariciando-lhe docemente o queixo, lhe disse:
– Preciso de ti.
A Opinião, muda como entrara, muda se conservou.
Perdera o uso da palavra ou preferia não exercitá-lo. O Rei insistia, oferecendo-lhe sequilhos e perguntando o que ela pensava disso e daquilo, se acreditava em discos voadores, horóscopos, correção monetária, essas coisas. E outras. A Opinião Pública abanava a cabeça: não tinha opinião.
– Vou te obrigar a ter opinião – disse o Rei, zangado.
– Meus especialistas te dirão o que deves pensar e manifestar. Não posso mais reinar sem o teu concurso. Instruída devidamente sobre todas as matérias, e tendo assimilado o que é preciso achar sobre cada uma em particular e sobre a problemática geral, tu me serás indispensável.
E virando-se para os serviçais:
– Levem esta senhora para o Curso Intensivo de Conceitos Oficiais. E que ela só volte aqui depois de decorar bem as apostilas.



Carlos Drummond de Andrade


Boa parte dos problemas que infringem o Brasil hoje em dia são decorrentes do desinteresse por parte da própria população em transformar a sua realidade. Na política, por exemplo, são constantes os casos de compra de votos, o que garante a “eternidade” de muita gente no poder, esta que nem sempre mostra-se interessada em resolver desordens ou conturbações vivenciadas pelo país. Nota-se, então, uma sociedade à mercê, onde os culpados são os próprios habitantes dela, que, de tão apáticos, não “movem uma palha” para mudar o seu “status quo”.

Para que qualquer administração tenha êxito, é substancial a cobrança e a fiscalização, isto é, ficar de “olhos bem abertos” pode ser decisivo para uma boa gestão e, como conseqüência, uma melhoria nas condições de vida da sociedade.

Compete aos cidadãos, obviamente, não aceitar essa situação oprobriosa (educação deficiente, hospitais públicos em estado lastimável, etc.) e lutar, mostrando isso agora, com uma escolha bem pensada de seus governantes, pois aí pode estar a resolução de todo esse impasse. O convite que se faz a todos é o de abandonar o marasmo, a letargia, tomar atitudes sérias e estridentes (porque é essa a necessidade observada no país).


É hora de agir!


Um governo democrático se faz com, primordialmente, uma boa escolha dos administradores (agora é a oportunidade, época de eleições!), e, depois, por meio de participação popular, seja através de denúncias, apoio, manifestações, cobranças, críticas, enfim, essa é a consciência necessária para uma vida melhor de maneira geral. O que obsta o crescimento de uma nação, dentre outras coisas, é a sua própria não contribuição, é o seu descaso com as questões sociais, ou seja, permanecer em “nulidade” perante a sociedade é sinônimo de atraso, sofrimento e chegada de mazelas das mais variadas e/ou imagináveis.

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