O Pagador de Promessas

Por Marina Cabral da Silva

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Zé-do-burro era um homem muito simples, vivia na companhia da mulher e de seu animal, um burro por quem tinha muito apego.

Certa vez o animal fora ferido na cabeça por um galho de árvore e Zé, ao ver a situação do animal, fez uma promessa à Santa Bárbara, prometeu que dividiria suas terras entre os necessitados e carregaria uma cruz tão pesada como a de Jesus até à igreja da Santa. Como em sua cidade não havia a tal igreja, fez a promessa em um terreiro de candomblé, onde ela é conhecida pelo nome de Iansan. Saiu de sua terra no interior da Bahia carregando uma cruz, junto ia sua esposa.

Caminharam sete léguas até que chegaram à igreja de Santa Bárbara em Salvador. Saíram às cinco da manhã e chegaram à igreja um pouco antes desse horário. Por mais que Rosa insistisse para que ele deixasse a cruz na porta, Zé mantinha-se firme na ideia de que a promessa só seria cumprida se ele deixasse a cruz na frente do altar como prometera.

Nessas circunstâncias Rosa se deitou nos degraus da igreja e cochilou. Zé, que estava extremamente cansado da jornada com a cruz, ficou tentando se manter em vigília, mas pegava no sono constantemente.

Enquanto isso, chegou à praça Bonitão e Marli. Ela lhe entregou um dinheiro e ele reclamou do tanto que ela conseguiu, mas o serviço de prostituta não rendia como antes. Os dois acabaram brigando, Marli era completamente apaixonada por ele que, no entanto, não se importava, a não ser pela questão financeira.

Marli foi embora. Bonitão foi em direção a Rosa e Zé, já com segundas intenções para com Rosa. Zé-do-burro lhe explicou a situação, ao que Bonitão aconselhou que ele fosse à porta lateral da sacristia, pois o padre já deveria ter levantado para se preparar para a missa das seis. Zé foi e enquanto isso Rosa e Bonitão conversaram cheios de insinuações.

Quando Zé voltou, Bonitão ofereceu um lugar para os dois se hospedarem, mas Zé se opôs a abandonar a cruz, frente às insistências do marido, Rosa foi e o traiu com Bonitão.

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Com o passar das horas, a agitação na rua começou e a igreja foi aberta. Zé, dirigindo-se ao padre, explicou sua promessa. O padre ouvindo citações do candomblé se recusou a permitir a entrada de Zé na igreja. Ele, frente a isso e muito responsável em relação à promessa, afirmou que só sairia dali quando a cumprisse.

Nesse momento, apareceram muitas pessoas na praça de frente para a igreja. O galego dono de uma venda, um poeta, uma baiana e outros, todos se puseram a favor de Zé e ficaram ali a opinar. Nessas circunstâncias Rosa volta já arrependida de sua traição. Logo mais um repórter aparece e classifica Zé como o novo Messias, apoiador da reforma agrária e cria envolta da promessa dele uma campanha política.

Um guarda apareceu e tentou convencer Zé a ir embora e depois intercedeu a favor dele junto ao padre, mas ele não aceitou. Com isso, apostas foram feitas quanto ao dia da entrada ou não de Zé e a cruz na igreja. O superior do padre foi à igreja, ficou a par da historia, propôs que Zé pedisse perdão por seu pecado e fosse embora abandonando a cruz, mas ele não aceitou.

Com contribuição de Bonitão, apareceu na praça um policial que ficou a observar Zé, buscando indícios para condená-lo. Rosa, de certa forma ciente quanto à situação do marido, voltou a suplicar ao marido para ir embora, mas ele estava irredutível. Nessas circunstâncias Bonitão reapareceu e Rosa foi com ele.

Chegou ao local o delegado com alguns policiais, querendo levar Zé-do-burro preso, mas ele se declarando inocente e sem nada a temer afirmou que dali só sairia morto. Logo uma confusão aconteceu e um tiro feriu Zé mortalmente. Os policiais foram embora, o padre se sentiu culpado e os capoeiristas que estavam na praça pegaram o corpo dele e colocaram sobre a cruz levando para dentro da igreja.

Por Rebeca Cabral