Incidente em Antares

Por Marina Cabral da Silva

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Antares recebeu esse nome por que simplesmente era um nome melhor do que Povinho da caveira. Desde o início de sua existência viveram ali duas famílias, a Campolargo e a Vacariano. Entre elas sempre houve uma rixa, e os patriarcas de cada uma passava tal desavença para os filhos. Assim, a história de Antares foi marcada por brigas, torturas e assassinatos. Os habitantes da cidade tinham que tomar uma posição, sendo a favor dos Vacarianos ou dos Campolargos. Isso até mesmo dentro da política ou dos esportes.

Foi Getúlio Vargas quem fez os coronéis da época se reconciliar. Benjamim Campolargo e Xisto Vacariano se reconciliaram a favor do progresso de Antares e do país. Durante todo o tempo Antares vive a política do Brasil passando por Getúlio e a ditadura, Jango, JK e os demais presidentes. Nesses tempos viviam Tibério Vacariano e Zózimo Campolargo que era governado por sua mulher D. Quitéria. Depois da morte de Zózimo o que restou das antigas famílias foi Tibério e Quitéria.

Nesse momento chegou em Antares um grupo com o intuito de narrar a vida de uma cidade brasileira fronteiriça, foi assim que os jovens com colaboração de Xisto Vacariano Neto faziam perguntas e entregavam formulários. Tudo sobre Antares foi levantado, mas o livro sofreu para ser publicado e quando foi não teve uma boa aceitação. Em Antares foi odiado. Tal livro falava muito sobre a Babilônia, favela de Antares, assim logo foi classificado como um livro esquerdista, o professor Martin Francisco, chefe das pesquisas, era classificado como um comunista ligado a Moscou.

Foi no ano de 1963, que Antares parou devido uma greve geral. Tibério tentou entrar em contato com o governador para que tal impedisse a greve, mas essa era direito do povo.
No dia em que a greve se iniciou a cidade entrou em pânico. Inicialmente D. Quitéria Campolargo faleceu e em seguida Cícero Branco e depois o maestro fracassado, Menandro Olinda. O sepultamento de D. Quita foi preparado e concorrido, uma multidão se dirigiu ao cemitério. Porém, os coveiros também entraram em greve e assim ninguém podia ser sepultado.

O prefeito major Vivaldo, o coronel Tibério, o delegado Inocêncio e outras autoridades tentaram convencer os grevistas, mas no final o caixão de D. Quita foi deixado ao lado do cemitério junto de mais seis que esperavam sepultamento. E foi durante a noite que os sete mortos se levantaram.

Os que ali esperavam o sepultamento eram os já citados Cícero, D. Quita, Menandro e ainda mais Joãozinho da paz, um pacifista, “pudim de cachaça”, “Barcelona” um sapateiro comunista e Erotildes uma prostituta. Não se sabe por que, mas esses mortos se levantaram e na manhã do dia 13 de dezembro de 1963, voltaram ao centro de Antares.

Cícero era advogado quando vivo e assim se tornou o representante dos outro seis mortos, por isso foi em busca de papéis que o ajudaria na conquista do sepultamento dos defuntos. D. Quita foi até sua casa onde encontrou seus genros e filhas brigando pelas jóias com as quais ela queria ser enterrada, Erotildes foi visitar sua amiga com quem dividia um quarto quando viva, Meandro voltou à sua casa para tocar Beethoven, Barcelona foi a sua casa e a outros lugares.

Joãozinho esteve com padre Pedro-Paulo e assim esteve com sua esposa Rosinha. Ele havia sido assassinado em função de torturas dos homens do delegado Inocêncio, e Ritinha também as sofrera, sendo assim Joãozinho ao ter com a mulher por intermédio do padre preparou também a fuga dela com o filho deles na barriga para a Argentina.
Cícero esteve com o prefeito e declarou que eles e os outros seis mortos queriam ser sepultados, caso contrário ficariam a apodrecer no coreto da praça principal. O prefeito esteve por sua vez com os homens influentes de Antares e juntos tentaram achar uma solução.

Ao meio-dia em ponto, assim como combinaram, os mortos estavam no coreto e assim o prefeito, o coronel Tibério, o jornalista de Antares, o delegado, o promotor e outros homens foram ter com os defuntos. Logo a praça se encheu com o povo de Antares que vendaram o rosto para não sofrerem com o fedor dos defuntos.

Foi então que a moralidade do povo foi destruída pelos defuntos. Acusações de roubos, fraudes e traições foram lançadas. E os nomes ficaram manchados. Em meio a isso, urubus voavam ao redor do coreto, pessoas desmaiavam e tinham crises nervosas e jovens gritavam em apoio aos defuntos.

Depois de tudo isso a população se dispersou e os defuntos se calaram no coreto. Os ratos imergiram por toda a cidade gerando pânico e nas casas muitos brigavam e se constrangiam com as palavras ditas na praça.

No dia seguinte, um grupo de homens amanheceu no coreto e atacaram os defuntos. Com tais ataques eles decidiram voltar aos seus caixões. Os grevistas também já tinham resolvido abrir as portas do cemitério. Assim os mortos foram sepultados.

Os “grandes homens” de Antares entraram em uma operação borracha e assim a população esqueceu os acontecimentos vividos. Os jornalistas que chegaram pouco depois dos mortos terem sidos enterrados, foram embora acreditando terem sido vítimas de uma investida do prefeito para chamar atenção à cidade.

Tibério Vacariano, um grande símbolo da história da cidade, faleceu, o padre Pedro-Paulo foi embora graças às acusações de tal ser comunista e a cidade seguiu com uma nova vida.

Podendo se afirmar que sete anos após o incidente daquela sexta-feira 13, o povo de Antares não se lembrava mais dos sete mortos do coreto.

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Por Rebeca Cabral