Natividade e sua irmã Perpétua foram visitar uma cabocla que, segundo boatos, via o futuro das pessoas. Natividade não queria saber sobre o seu futuro, sim o de seus dois filhos; os gêmeos Paulo e Pedro. Elas chegaram e a cabocla lhes perguntou se os meninos brigaram no ventre materno, a mãe respondeu que sentia muita inquietação durante a gravidez, o que foi deduzido como a briga dos gêmeos. Depois dessa confirmação a cabocla revelou que eles seriam grandes homens no futuro. Com essa promessa as irmãs foram embora.
Fazendo o caminho de volta à carruagem que as esperava, um mendigo pedia pelas almas. A felicidade de Natividade com a revelação do futuro dos filhos era tão grande que deu ao homem dois contos de réis, que foi guardado por ele. Quando chegou a hora do jantar, Natividade contou ao marido, Santos, a revelação da cabocla. Ele se alegrou com a previsão para o futuro dos filhos, mas se inquietou com a briga que eles tiveram no ventre.
Mesmo prometendo à mulher que não diria nada a ninguém, ele procurou seu amigo Plácido, um líder espírita, e confessou toda a história. Plácido analisou e concluiu que a briga era o sinal da grandeza dos meninos, assim Santos se aquietou.
Os meninos foram crescendo, fisicamente eram idênticos, porém suas opiniões e modo de pensar divergiam muito. Isso afligia Natividade, que era toda dada aos filhos, esses por muitas vezes brigavam por nada, afligindo a mãe ainda mais. Um dos motivos de tanta discórdia eram as opiniões políticas que tinham. Natividade tentava fazê-los abandonar tal assunto, justificando a pouca idade dos meninos, mas não conseguia.
Pedro era a favor do Império e Paulo, da República. Certa vez, cada um comprou um quadro de homens públicos, que representavam seus ideais políticos, e os pendurou em cima de sua cama. Mas logo um começou a fazer desenhos no quadro do outro e assim acabaram lutando, deram socos um no outro e rasgaram os quadros.
Os pais quando souberam do futuro grande de seus filhos sonharam com suas profissões, assim Pedro foi estudar medicina e Paulo direito. Eram rapazes e estudantes quando a primeira paixão os despertou. Flora, esse era o nome da amada. No início apenas achavam a menina bonita, prendada, mas com o passar do tempo apaixonaram-se por ela. A moça, perdida entre os dois, não escolhia nenhum e assim foi seguindo. Pedro tinha a favor dele a proximidade com a donzela, pois vivia no Rio de Janeiro assim como ela, Paulo estudava direito em São Paulo.
Batista, o pai de Flora, recebeu o cargo de presidente da província. Sabendo da nomeação, Pedro disse à Flora que para onde o pai dela fosse ele iria atrás. Pensando, Flora viu que não queria sair da corte e pediu ao conselheiro Aires, amigo das duas famílias, que fizesse com que o pai negasse o cargo. No entanto, nada aconteceu, ele foi feito presidente da província ao norte.
Flora estava extremamente triste, mas de repente um golpe foi dado no governo e o país deixou de ser Império e tornou-se República. Paulo ficou muito feliz, já Pedro, a pedido da mãe, guardou silêncio no jantar e no resto do tempo. Paulo saiu, encontrou-se com amigos e festejou, voltou cantando e foi para o quarto, onde estava Pedro, que ignorava tudo. Tardaram a dormir. Paulo pensando na nova fase do país e Pedro imaginando que o golpe não foi nada e que logo o imperador estava de volta ao poder.
Com essa mudança política, o cargo de Batista se perdeu e eles permaneceram no Rio. O amor dos jovens irmãos era crescente e a confusão da menina também, não escolhia nenhum, parecia querer ter os dois. E assim a desavença entre os gêmeos crescia. Por fim fizeram um acordo, o escolhido teria a moça e o rejeitado se conformaria, foi um acordo fácil, pois os dois se imaginavam mais amados.
Flora era toda confusa e perturbada, passou a ter visões. Via os dois, Pedro e Paulo, hora era só um, depois se tornavam dois e assim se afligia. Chegou o tempo de subir até Petrópolis, para os bailes, reuniões e etc. Os gêmeos tomaram justificativas relacionadas ao estudo para permanecerem no Rio, mas na verdade o motivo da permanência era Flora. Esta já se perturbava de tal modo que não aparecia mais quando os irmãos iam a sua casa. Assim pediu ajuda a Aires, que lhe disse para viajar e se ausentar por uns tempos.
Assim Flora foi para casa de D. Rita em Andaraí, irmã de Aires. Lá a moça ficava a desenhar. As cartas que recebia deixava Aires satisfeito. Flora era bonita e ganhou outros pretendentes, mas não tinha olhos para eles. Nóbrega, aquele mendigo que recebeu os dois contos de réis de Natividade, tornara-se rico, capitalista e bom partido. Fez um pedido à Flora o qual ela rejeitou. Depois de tal acontecimento adoeceu. Inicialmente Rita não chamou os pais da moça, mas depois de uma consulta médica eles foram vê-la.
Natividade também passou a sair de Petrópolis todos os dias e ir até Andaraí pra ter com a menina, Aires a visitava dia sim e dia não. Os gêmeos também apareciam. Já formado, Pedro também a examinava. No entanto, a menina morreu. O enterro se fez e todos choraram.
Nos tempos seguintes, os irmãos seguiram suas profissões e quanto às opiniões políticas, Pedro aceitou a República, mas Paulo queria mais dela.
No mês de aniversário da morte de Flora, os dois saíram cedo e foram ver o túmulo. Pedro primeiro, Paulo depois. Rezaram e choraram. Os dois então foram eleitos deputados, um fazia oposição ao outro; nesses tempos Natividade estava velha e no momento antes de morrer teve uma conferência com os filhos, os fez jurar que para sempre seriam amigos e morreu. E assim foi o primeiro ano na política, eram amigos fiéis, todos se impressionavam. No ano da morte da mãe, choraram.
A câmara fechou em dezembro e reabriu em maio do outro ano. Só Pedro apareceu, Paulo estava a passeio em Minas. Mas quando voltou todos viram a diferença nos gêmeos. Odiavam-se. Muitos perguntaram a Aires, que era amigo da família, o que aconteceu para que os irmãos mudassem, Aires apenas afirmou que eram os mesmos.
A previsão da cabocla se concretizou: ambos se tornam grandes, porém inimigos.
Por Rebeca Cabral