As Joias da Coroa

Por Marla Rodrigues

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O duque de Bragantina há 14 anos de passagem em uma cidade abusou de uma moça e a deixou grávida. Ela o procurou e o duque a empurrou como esposa de um de seus lacaios. A criança foi chamada de Conceição. A moça chamava-se Emília e desde esse fato tinha a alma carregada de tristeza. Atualmente vivia na casa que o duque oferecia aos seus lacaios, era viúva e com ela vivia seu filho do casamento e o sogro e a sogra.

Foi o sogro que combinou a venda de Conceição, a menina vivia sobre a mentira de que era uma agregada da casa, ninguém sabia da sua origem. Vendeu-a ao Paiva. O negocio era esse: a menina ia passar uma temporada na casa do Paiva, ele era um íntimo do duque o qual iria à noite para casa de seu empregado para estar com a menina. Em troca foi dado dinheiro, o velho pensou logo nas necessidades do neto e assim aceitou a venda da inocência da menina com uma preocupação mínima.

Na noite em que Paiva foi pagar o velho, Emilia escutou todo o negócio e brigou com ele em uma fúria jamais vista em mulher que vivia como uma moribunda.

Paiva, como já se pode notar, não era o melhor dos homens e, como malandro que era, planejou roubar as joias pertencentes ao duque de Bragança – seu amigo pessoal. Paiva tinha como cúmplice Inácio, um empregado do palácio do duque que tinha como responsabilidade trancar as portas. E também contava com Aleixo, dono da casa onde as joias ficariam escondidas ate a polícia se aquietar.

O plano era simples, o duque iria a um baile na casa do Marques, dormiria lá e pela manhã ia para Anatópolis com a duquesa. As joias usadas no baile seriam mandadas para o palácio onde ficariam provisoriamente guardadas em um armário antes de serem guardadas na segura burra. O particular do duque, que serviria como um empecilho, com certeza iria para casa mais cedo com intuito de ficar com a família aproveitando-se da ausência do duque. Nessa noite, Paiva e Inácio iriam entrar na sala onde o armário ficava e levariam as joias para a casa de Aleixo.

Foi assim que atuaram na noite, Inácio deixou a porta aberta e ele e Paiva se encontraram na madrugada, invadiram a sala, arrombaram o armário e tiraram as joias. Para criar evidências abriram três janelas e lançaram uma corda por uma delas.

Na manhã seguinte, no palácio houve a maior zorra, com todos querendo saber o que aconteceu e o marques d’ Etu, filho do duque – porém os dois estavam brigados devido a avareza e ambição do marques – gritando pelo anel de diamantes dele que fora roubado.

A polícia foi chamada, o particular e também o duque que ainda não tinha partido para Anatópolis. O delegado depois de interrogar os funcionários da casa acabou levando preso Inácio e o particular.

No gabinete do duque, cômodo onde poucos entravam, ele conversava com Paiva. A conversa, no entanto, não resultou bem. O duque afirmou que sabia que era Paiva o responsável pelo roubo, acreditando não ser hora nenhuma vítima de suspeita por ser tão próximo ao duque, porém o duque não tinha intenções de prender Paiva, só queria provar que ele sabia da verdade e que o empregado não era tão esperto assim, pelo contrário. Mas Paiva preferiu encenar e assim questionou sua própria honra e depois ameaçou o duque falando que se preso contaria todas as transgressões do mesmo. A resposta dele foi só afirmar que ninguém passa por cima dele e assim Paiva foi levado preso, porém não em um carro de polícia e tudo mais, sua prisão foi muito discreta como se o duque temesse seus segredos revelados ou pretendesse uma negociação.

Há esse tempo a notícia do roubo já chegara à casa de Emilia, mas lá o fato passou sem grandes reboliços. Acontecia que Emília estava doente, amanhecera assim. Na casa, o sogro e a sogra só se preocupavam com ela porque era como uma empregada. Apenas Conceição se preocupava de verdade e foi assim que foi ter com a mulher, via que ela era a única que de fato a amava naquela casa e assim, estando com a doente, a reanimou com seu afeto. Porém, à noite, quando a menina foi para casa de Paiva ter com sua amiga, Claudinha, ela caiu na cama novamente.

A ida da menina para casa de Paiva significava que o negócio ainda estava arranjado e a menina perderia sua inocência dos poucos 14 anos para o próprio pai. Na cama foi que a duquesa encontrou Emília. Esta era uma mulher muito boa e se ocupava em visitas, até mesmo em casas tão pobres como aquela. A verdade era que tinha uma grande curiosidade e compaixão por Emília que carregava na face e no corpo um fardo, que era o segredo quanto à origem de Conceição.

E foi ali em seu leito de morte que Emilia revelou toda sua história e de sua filha à duquesa. Pouco depois morreu.

Na casa de Paiva tudo ia muito bem. Como fora concedido pelo duque, Paiva pode ir lá e explicar porque ficaria fora aquela noite. Conceição chegara para a visita e tudo ia exageradamente bem. A refeição foi das melhores e um ótimo vinho foi oferecido. A menina aceitava tudo e assim nem notou como todos foram dormir cedo. Ela foi encaminhada para um quarto muito perfumado e organizado e ali dormiu usando uma linda camisola.

O duque chegou, entrando por uma porta que dava para o jardim e propositalmente foi deixada aberta pela mulher de Paiva, e encontrou a menina dormindo. Em um fervor se aproximou, mas se envergonhava pela virgindade tão pura da menina, ficou um tempo aos pés da cama a observando. Quando se levantou foi interrompido pela duquesa. Esta esteve ali todo tempo o esperando até que finalmente o interrompeu com nojo afirmando que ele era pai da menina.

Corria o boato que o duque estava doente, mas ele estava de fato só irritado com a recente descoberta e assim por intermédio do delegado ajustou a liberdade do Paiva, temia que junto à duquesa lançassem na sociedade o escândalo com Conceição. Com a mesma energia que o duque, ele ameaçou levar Paiva à pior das ruínas se não confessasse o crime e entregasse as joias. Assim, ele tendo em troca total impunidade entregou o local onde estavam as joias e foi liberto junto com Inácio e o particular.

A Paiva o cargo foi restituído, os outros dois foram demitidos. E assim a vida seguiu.