A casa fechada

Por Marla Rodrigues

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Dona Sinfonia estava na janela observando a casa que estava fechada, mas fingia estar ali para tomar um ar por estar com dor de cabeça. Ali na soleira da porta da agência dos correios estava Joaquim Aguaceiro, que também observava a casa. Um mendigo estava sentado debaixo do lampião e também estava ali um pescador que acabava de deixar uma carta para ser enviada a seu filho que estava em outra cidade e não mandava notícias há um bom tempo.

Não demorou muito para que, ali reunidos, começassem a falar do acontecimento da casa vizinha. O moleque que trabalhava no correio estava escondido nos fundos da tal casa a fim de ouvir alguma coisa, mas estava tudo fechado e escuro. Em seguida, dona Eudóxia, a agente do correio, apareceu na porta, ofereceu um café e todos ficaram ali sentados esperando que Maria das Dores saísse da casa. O boato que corria era o de que ela ia tomar o trem das sete.

Depois chegou dona Ricota fingindo não saber do caso, mesmo já tendo ouvido a história duas vezes pela boca de Geraldinho. Todos estavam ali esperando Maria das Dores passar.

Por último, chegou Geraldinho. Dona Ricota pediu que ele contasse o caso, falou que não prestara atenção quando o viu contar para outras pessoas. Então, ele repetiu a história para o grupo. Ele estava passando pelo beco às onze horas e viu um vulto que pulou dentro da casa e depois saiu correndo pela porta e sumiu. Depois viu Matias pegar a esposa e exigir o nome do fugitivo. Pegou o chicote e batia nela, queria o nome do amante. Ela chorava baixo para não acordar os filhos, mas com o tempo as chicotadas começaram a tirar sangue e aí ela gritou, mas não falava o nome do outro. Matias falou que se ela não falasse o nome, teria que ir embora e nunca mais veria os filhos, mas ela continuava em silêncio. Ele batia e chorava até que os filhos acordaram porque a mãe começou a gritar mesmo. Ela não disse o nome do amante e era por isso que partia no trem das sete.

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As mulheres sentiram por ela um pouco de dó, mas os homens, não. Achavam Matias até bondoso porque no lugar dele matariam a safada! Na casa, que agora tinha uma luz acesa, a porta se abriu. Mas quem saiu foi o Julinho, o filho mais velho, depois finalmente saiu Maria das Dores. Estava com um xale preto que cobria a cabeça e ia até os pés. O apito do trem avisava que já eram sete horas, hora da partida. No silêncio da cena, ouviu-se o soluço de Julinho, a mãe hesitou minimamente e seguiu. A última fala foi do mendigo: “ só Deus sabe... só Deus sabe”.


Por Rebeca Cabral