MEC cancela prova do Enem

Em 01/10/2009 07h46 , atualizado em 05/07/2022 17h08 Por Marina Dutra e Silva

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O Ministério da Educação e Cultura (MEC) cancelou na madrugada desta quinta-feira (1º) a prova do Exame Nacional de Ensino Médio (Enem), que seria aplicada neste final de semana. A assessoria de comunicação social do MEC confirmou que a decisão partiu do próprio ministro da Educação, Fernando Haddad, após conhecer denúncia feita pelo jornal “O Estado de São Paulo”, de que a prova teria vazado.

Haddad concederá entrevista coletiva ainda hoje na sede do MEC, em Brasília, para explicar os procedimentos com relação ao Enem. O presidente do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep – órgão do ministério responsável pelo exame), Reynaldo Fernandes, comentou o cancelamento da prova ao jornal e afirmou que há fortes indícios de que houve vazamento. “Há 99% de chance”, disse o presidente.

O MEC tem uma segunda versão da prova, mas ainda não confirmou se ela poderá ser utilizada neste final de semana. A expectativa do MEC é realizar a próxima prova em 45 dias. Com o cancelamento, 4,1 milhões de pessoas em 1,8 mil cidades do Brasil vão deixar de fazer o teste.

O jornal informou que foi procurado por um homem que disse ao telefone ter as duas provas que seriam aplicadas no sábado e no domingo. Propôs entregá-las à reportagem em troca de R$ 500 mil. "Isto aqui é muito sério, derruba o ministério", afirmou o homem.

Ainda de acordo com o “O Estado de São Paulo”, a comprovação da fraude se baseou em elementos repassados ao ministro pela reportagem, via telefone e e-mail. As questões originais estavam guardadas em um cofre, que foi aberto ontem à noite para confirmar a informação.

Comparações

O jornal teve acesso ao exame e, na prova de linguagens e códigos, na questão número 1 havia uma tira da personagem de história em quadrinhos, Mafalda. Na folha seguinte, o exame produzia uma bandeira do Brasil com a área verde parcialmente suprimida, simbolizando o desmatamento.

Em outro trecho do exame, os examinadores utilizaram no enunciado o poema Cancão do Exílio, de Gonçalves Dias (“Minha terra tem palmeiras/onde canta o sabiá”). As questões da bandeira e do poema foram confirmadas pelo MEC como originais.

O gato Garfield, o programa de mensagens instantâneas MSN, o trecho literário de Carlos Drummond de Andrade (“No meio do caminho tinha uma pedra/tinha uma pedra no meio do caminho”), o trecho da música “É Proibido Proibir”, de Caetano Veloso também são mencionados no exame. O tema da redação era o Estatuto do Idoso.

Suspeitas

Na noite de quarta-feira (30), o jornal se encontrou com o homem, na zona oeste de São Paulo. Ele, que estava acompanhado com outra pessoa e disse que recebeu o material na segunda-feira (28), de um funcionário do Inep. Afirmou que viu na situação a oportunidade de ganhar dinheiro.

O homem procurou um advogado para orientá-lo e informou que as cópias do material foram registradas em cartório. Há suspeitas que o documento teria vazado também para filhos de deputados e diplomatas em Brasília.

Os principais suspeitos são os funcionários da gráfica que imprimiu o Enem, em São Paulo. Reynaldo informou que só quatro ou cinco pessoas do ministério tiveram acesso à prova. Somente as 180 questões - sem uma ordem definida - estavam guardadas no cofre e, por medida de segurança, ele só podia ser aberto por duas pessoas, uma que tivesse a chave e outra, que levasse uma senha. O ministério vai acionar a Polícia Federal para investigar o caso.

Alívio

O ministro confirmou na manhã de hoje (01) que houve o vazamento do exame. Em entrevista à Rede Globo, Haddad disse que será feita uma investigação para identificar em que momento da impressão da prova, um exemplar foi furtado. Ainda assim, o ministro demonstrou alívio ao ter tido conhecimento da situação antes das provas serem aplicadas.

*com informações do jornal "O Estado de São Paulo"
 

Por Marina Dutra