Cursar medicina é o sonho de muitos jovens, entretanto, as vagas nas universidades públicas são extremamente concorridas e as faculdades particulares chegam a cobrar mensalidades superiores a 10 mil reais. São programas como o ProUni e o Fies que possibilitam, anualmente, milhares de jovens se formarem nestas instituições de ensino.
Para compreender bem a trajetória a espera dos alunos que forem aprovados no ProUni 2024 em medicina, conversamos com Gustavo Dalto, médico neurologista, aprovado pelo ProUni, que, hoje, faz residência médica nos Estados Unidos, para atuar no país.
Descoberta do ProUni
Gustavo nos conta que descobriu o ProUni por conta do seu irmão mais velho, que, em 2007, havia conseguido uma bolsa para cursar Odontologia. Ele disse:
"Naquela época, você não tinha acesso à internet como se tem hoje. Então, era uma coisa que a gente via na televisão, mas não sabia muito bem como funcionava. Quando meu irmão conseguiu a bolsas, pensei nisso como uma alternativa para entrar na faculdade"
Sem o ProUni, como seria?
Desde aquela época, as instituições particulares já cobravam um valor alto nas mensalidades de medicina e as vagas públicas eram muito concorridas. Gustavo conta que sua família não tinha estrutura financeira para arcar com a mensalidade, e por ser aluno de um colégio público, no interior do estado, ele não teria condições de competir às vagas em universidades federais.
Gustavo disse:
"Eu estava em uma cidade do interior, eu não tinha acesso a cursinho comunitário, eu não tinha nada. Não teria como passar num federal, sempre estudei em escola pública e, infelizmente, a gente sabe que a escola não te prepara adequadamente para o vestibular, ao menos que você esteja numa escola pública numa capital, que se tem as escolas federais. Mas, uma escola pública padrão, do Brasil, ela não prepara o aluno para competição que é um vestibular para medicina"
Gustavo diz que sem o ProUni, ele teria que trabalhar durante o dia, para poder pagar um cursinho de noite, ou até mesmo, teria desistido. Seria uma trajetória muito mais complicada.
Ele também conta de outra dificuldade de morar no interior, que não tinham faculdades na sua cidade, ele sequer conhecia alguém que fazia medicina, era uma realidade muito distante do seu dia-a-dia.
O desejo de fazer medicina
O desejo de ser professor foi o primeiro que se apresentou para Gustavo, por isso, ele tinha vontade de cursar história. Mas, quando ele chegou no ensino médio, acompanhou uma psicóloga que trabalhava em um hospital psiquiátrico.
Ele contou:
"Quando eu entrei no hospital, eu me vi trabalhando ali dentro, sabe? A minha mãe era técnica de enfermagem e ela sempre falava muito sobre a rotina do hospital, de como que era, mas ela nunca falou: "vocês tem que fazer medicina!", ou nada disso. Mas eu lembro que era uma escolha difícil, peitar que eu ia fazer medicina, sabe?"
Não pare agora... Tem mais depois da publicidade ;)
Gustavo conta que gostou muito do trabalho que a psicóloga fazia com pacientes internados. Em dado momento, ela disse que a única limitação que ela sentia era a impossibilidade de realizar diagnósticos e prescrever remédio, logo em seguida, ela recomendou que ele fizesse medicina.
Então, Gustavo decidiu que esse era o caminho que ele iria tomar.
Conheça mais ainda da vida profissional na medicina
A rotina do médico aprovado no ProUni
Gustavo conta que se formou, fez mestrado e residência de neurologia no Brasil. Até que se mudou para os Estado Unidos, inicialmente, para fazer um doutorado.
Ela realizava pesquisas pré-clínicas, feitas em camundongos, ou seja, era uma atividade muito distante do atendimento aos pacientes. Após dois anos, ele decidiu que ficaria nos EUA e validaria sua formação como médico para poder atuar no país.
Lá, mesmo com o diploma validado, é necessário realizar uma residência no país. Então, Gustavo está recomeçando sua residência em neurologia.
Ele conta que, quando estava no Brasil, pensava que seria muito difícil atuar como médico nos EUA, pois, atuar na medicina é cuidar de pessoas e a cultura lá é bem diferente. Mas, Gustavo foi surpreendido positivamente e diz que é bem tratado e muito respeitado, tanto pelos colegas de serviço como pelos pacientes.
Conselhos para quem quer fazer medicina pelo ProUni
Ao ser questionado sobre um conselho para quem quer cursar medicina pelo ProUni, Gustavo respondeu:
"Eu acho que, em primeiro lugar, o curso de medicina é uma escolha muito difícil. Mas, se você que fazer medicina, não desista! Porque é um curso que vai te abrir muitas possibilidades, não só profissionais, mas pessoais também. Vai te trazer felicidade, trabalhar com pessoas traz felicidade"
Ele diz que também há áreas na medicina em que você pode fazer um trabalho mais individual. Também, declara que a prova mais difícil de medicina é o vestibular, que depois do ingresso, você continua sendo testado, mas tem mais estrutura e condições.
Gustavo conclui:
" Eu saí de uma cidade no interior e fui morar em Porto Alegre, eu não tinha noção, Tiago, assim, certeza, nem como que eu ia pagar meu aluguel!
Eu não sabia, entende? E é incrível, porque você vai tendo as possibilidades de conseguir fazer pesquisa, de conseguir fazer um dinheiro, você vai se virando, entendeu?A outra coisa que eu digo é: foca em um problema de cada vez, se você pensar em tudo... Por exemplo, é um curso que é 6 anos, então se você pensar nos 6 anos, você enlouquece, então vai etapa por etapa, e aproveite cada uma"
Por Tiago Vechi
Jornalista