A Santidade e Os Preservativos - Corrige Aqui

Goiânia, 07 de dezembro, de 2010

Vossa Santidade Bento XVI

Sempre fui contra a influência dos dogmas religiosos, independente do credo que for, em questões públicas graves como o uso de preservativos. Se não existissem DSTs que matam milhões de pessoas e que poderiam ser evitadas pelo uso de camisinhas , não haveria tanto problema. Porém, a realidade não é essa, e declarações como a que o senhor fez no ano passado na África: “camisinhas não devem ser usadas porque podem agravar a proliferação da AIDS”; só piora uma situação que já é altamente grave. Enquanto vocês discutem o que é moral ou imoral na sua torre de marfim, muitos fiéis católicos, à margem da sociedade, morrem de AIDS, o que poderia ser evitado se sua Igreja não tivesse praguejado o santo preservativo.

No entanto, o que me levou escrever-lhe foi o tumulto gerado pela sua declaração pessoal no seu recém publicado livro. Fiquei surpreso ao senhor reconhecer o uso de camisinha, em casos particulares, como prostitutos e mulheres as quais possuem maridos soropositivo. Por isso, parabenizo-o pela inédita flexibilização com relação ao assunto. Apesar de não ser a opinião oficial da SICAR, e ainda ser uma visão um pouco limitada da realidade, já é um avanço.

A camisinha é muito mais que um mero método contraceptivo, é a única maneira de evitar efetivamente a proliferação exponencial das DSTs. É errado afirmar, como vocês da Igreja fazem, que o incentivo ao uso de preservativos levaria a uma promoção do sexo gratuito e hedonista. Pois, sua santidade, quem quer esse tipo de sexo não se preocupa se vai fazê-lo com ou sem proteção, e aqueles que possuem maiores valores morais, segundo a visão de vocês, não vão mudar seus hábitos só por estarem mais protegidos.O uso de preservativos, na verdade, é sim uma demonstração de preocupação com a própria saúde e a saúde do parceiro.

Por tudo isso, a Igreja deveria levar mais a sério esse assunto. Quero novamente agradecê-lo por colocar em evidência na mídia o uso de preservativos, mas o que gostaria mesmo seria que vocês pudessem dar direito de livre arbítrio aos seus fiéis, ao invés de condenar o uso de camisinhas.Afinal uma qualidade da Igreja Católica sempre foi sua capacidade para adaptações com as mudanças na sociedade, e agora é a melhor hora de repensar a posição de vocês quanto ao uso de preservativos.