Terremotos: quase uma questão de poder e influência

Em 18/01/2010 17h42 Por Juliana Silva Marton

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Em setembro passado, cientistas divulgaram um estudo na Revista Nature que dizia ser capaz de prever terremotos. É pena que esse tipo de previsão não possa ser utilizado para antecipar catástrofes como a que ocorreu no último dia 12, no Haiti.

O forte terremoto que abalou o pequeno país destruiu escolas, prédios públicos e casas. De acordo com o premiê do Haiti, Jean-Max Bellerive, mais de 100 mil pessoas podem ter morrido, em meio aos escombros das construções que viraram brinquedinho diante da fúria do fenômeno.

O que mais preocupa a Organização das Nações Unidas, neste momento, é a falta de estrutura médica do país, cuja principal atividade econômica é a exportação de cana-de-açúcar – um dos resquícios da próspera colonização empenhada pelos franceses.

Diferentemente do que observamos na terra dos haitianos, o Japão, com toda sua estrutura e poder, já oferece até mesmo aulas de como proceder em casos de terremoto. Perseguido constantemente pelos tremores, graças a sua localização pouco favorável no globo, a Terra do Sol Nascente já se acostumou a tapear os abalos recorrentes.

As maiores perdas, não ultrapassam uma centena. Nos países despreparados e/ou subdesenvolvidos, o número de mortes também fica na casa das centenas, contudo acompanhada de mais três zeros que completam os milhares de vítimas dos terremotos.

O mundo assistiu, mais uma vez inerte, a ação da natureza enfurecida. A tecnologia mais uma vez não foi suficientemente capaz de controlar o destino da população local. As nações ricas mais uma vez, agem da mesma forma: cruzam seus braços e observam os países pobres, como se fossem um bando de galinhas ciscando em seu próprio quintal.

O Banco Mundial anunciou que vai desbloquear US$ 100 milhões adicionais para o Haiti. Ou seja, mais uma dívida para o país, comprovadamente, mais pobre das Américas. E o máximo que o Brasil consegue fazer é enviar 400 toneladas de leite em pó para as tropas militares que sobreviveram após o tremor que atingiu 7 pontos na Escala Richter.

Na verdade, cada um se importa com o que lhe pertence. Os governos mundiais não estão mais preocupados em ajudar um lugar em que não investem ou não detém propriedade de algo. O Brasil perdeu 11 militares na catástrofe e outros oito ainda estão desaparecidos.


Zilda Arns, Fundadora da Pastoral da Criança - Uma das vítimas da catástrofe

Outra perda muito lamentada foi a da Pastoral da Criança, Zilda Arns Neumann, que morreu durante o terremoto. A médica estava no país a fim de implantar uma unidade da entidade de ação social da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB).

São vidas, é fato. Mas, e as outras 99.980 pessoas que ainda estão soterradas debaixo de toda aquela terra que foi remexida? Estas não têm nomes. Não são citadas nos grandes jornais. Suas famílias, provavelmente, não vão sequer poder enterrar seus corpos, já que o estrago foi tamanho que as vítimas do desastre são retiradas dos escombros com escavadeiras.

Alguns, ainda atrevem-se a dizer, que tudo o que aconteceu ali, toda a tragédia que acometeu milhares de pessoas, não foi mais do que merecido. Talvez, estes pensem que um país tão minúsculo e insignificante a seus próprios olhos não valha a pena e que seu território ocupado pelos naturais dali, não passa de um incômodo ao mundo saturado de pobreza.

Existem pessoas ali. O valor de uma vida é igual, seja esta rica, pobre, intelectual, analfabeta. Não se pode atribuir diferentes valores a vidas. Quais medidas deveriam ser tomadas? Um pouco de solidariedade seria muito bem recebido daqueles que vão passar anos tentando reconstruir o pouco que lhes pertencia.

Enquanto isso, os detentores do poder e, principalmente, do dinheiro enviam tropas militares para ajudar a socorrer as vítimas do desastre. Como se a já conhecida “força” militar pudesse melhorar a situação de pessoas desabrigadas e desalojadas. Então é esse o apoio “total” prometido pelo Nobel da Paz, Barack Obama? Um contingente de milhares de soldados com armas em punho é o que a população haitiana, ou o que sobrou desta, menos precisa neste momento.