Uma decisão lamentável ou não? Isso só o tempo nos dirá. Mas a determinação do Supremo Tribunal Federal (STF) em derrubar a exigência do diploma para exercer o jornalismo poderá ter consequências sérias. Não unicamente para aqueles que já estão no mercado de trabalho, mas para os que sonham em se tornar emissores de informação.
Segundo o presidente do Supremo, ministro Gilmar Mendes, estabelecer que um curso superior seja obrigatório para escrever em jornais, revistas ou então ancorar um telejornal fere o direito de liberdade de expressão, previsto na Constituição de 1988. Pensemos então: um impresso, por exemplo, é feito apenas de opiniões? Quando se abre um jornal, vê-se apenas artigos, colunas e crônicas? Claro que não. E é aí que entra a formação superior.
O presidente do STF é um dos mais favoráveis a não obrigatoriedade do diploma
Apesar da crença do Sindicato das Empresas de Rádio e Televisão no Estado de São Paulo e do Ministério Público Federal, que interpuseram recurso no STF contra a obrigatoriedade do diploma, escrever uma notícia não é tão simples assim. Pergunte a quem acaba de entrar na faculdade e quem está saindo dela para perceber que a diferença no nível de técnica é completamente diferente.
Afinal, não é apenas aprender o que é lead de uma notícia. Muito mais profundo do que isso é olhar um acontecimento pelos seus vários ângulos, encontrar as diversas maneiras que ele pode ser noticiado seguindo sempre a regra da imparcialidade, deixando ao leitor a missão de formar sua própria opinião.
Aí vêm aqueles que defendem que bom jornalista é aquele que já sabe escrever, mesmo antes de entrar na faculdade. Isso é óbvio. Mas exercer uma profissão tão necessária para o bom andamento da nossa sociedade implica outras nuances, como conhecimento ético e teórico. Entram em cena então os que defendem que ética se aprende no dia a dia e não nas carteiras da faculdade. Isso também é claro! Faço outra pergunta: você, que está lendo este artigo e está se preparando para o vestibular, que tem uma boa bagagem de leitura, já ouviu falar em ética da responsabilidade, ética utilitária, ou então em ética da alteridade?
Podem acreditar que elas estão mais ligadas ao seu cotidiano do que você possa imaginar, mas estudá-las a fundo faz com que o futuro jornalista entenda o que cada palavra utilizada no seu texto pode acarretar. E são elas que fazem milhares de jornalistas neste país, mesmo com salários desvalorizados, escreverem diariamente com imparcialidade, olhando os vários lados de um mesmo fato, garantindo assim que a boa informação chegue isenta ao receptor.
Ele faz ou não a diferença na hora de noticiar?
O que sempre se frisa é que a principal função do jornalista é fazer com que a notícia chegue de forma clara e concisa ao leitor, telespectador ou ouvinte. O jornalista econômico, por exemplo, traduz as fórmulas matemáticas e contas de um economista e as coloca em palavras para que se tornem entendíveis. E nem todos são capacitados para isso, ou são? Repetindo o que disse no início: isso só o tempo nos dirá!
A Federação Nacional dos Jornalistas, Fenaj, considera lamentável a decisão do STF. Há anos ela encabeça uma luta justamente contrária a atitude dos ministros. Em entrevista há vários jornais de grande circulação do país, o advogado da instituição, João Roberto Fontes, saiu em defesa do diploma.
"A exigência não impede ninguém de escrever em jornal. Não é exigido diploma para escrever em jornal, mas para exercer em período integral a profissão de jornalista. O jornalismo já foi chamado de quarto Poder da República. Será que não é necessário o conhecimento específico para ter poder desta envergadura? Um artigo escrito por um inepto poderá ter um efeito devastador e transformar leitores em vítimas da má informação", afirmou o advogado, ao frisar que contratar profissional sem formação poderá acarretar na perda de credibilidade dos mass media.
Cartaz da campanha da Fenaj pela obrigatoriedade do diploma
Opiniões, histórias e manifestações contrárias à parte, dê sua opinião! O que acha dessa decisão? Afinal, o fim do diploma pode prejudicar o bom andamento da veiculação da informação do país? Ou será o contrário?