Ensurdecedores digitais

Em 07/04/2009 18h35 Por Marla Rodrigues

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Você possui um MP3, MP4, MP5 ou iPod? E qual o volume em que escuta? Se você respondeu “no máximo”, cuidado: você pode estar ficando surdo! Escutar música alta em fones de ouvido não é novidade, já que desde os anos 80 o walkman (primeiro aparelhinho portátil para tocar música) faz a cabeça de jovens e adultos no mundo todo.

Em um estudo feito em São Paulo em 1999, 20 voluntários foram submetidos a uma hora de música alta, entre 87 e 113 dB (decibéis). O resultado foi que 25% deles sofreu perda auditiva e 72,5% registrou ocorrência de zumbido. Depois de 48 horas todos voltaram à normalidade.


iPod deixou de ser marca para virar conceito

Até aí, tudo bem. O problema é que se a exposição for longa, os danos causados podem ser permanentes. Lembre-se que a fita K-7 tocada no walkman não armazenava mais do que duas horas de música e as pilhas do aparelho não duravam tanto assim. Os tocadores digitais atuais, porém, permitem ouvir música com o volume nas alturas um dia inteiro!

Higher, higher!

Os jovens afirmam que é preciso ouvir a música tão alta para poder compensar o barulho do ambiente, para poder se isolar deste mesmo barulho, para ser mais estimulado pela música, para poder sentir o corpo vibrar e... para aproveitar todo o potencial que o aparelhinho oferece.

Acontece que o volume máximo do iPod chega a 120 dB, que é o mesmo que ter uma britadeira ou uma motosserra colados à sua orelha. Para se ter uma ideia, no Brasil aceita-se o ruído máximo de 85 dB no ambiente de trabalho. Estima-se que existam hoje no mundo cerca de 100 milhões de pessoas que possuem um tocador de músicas digital. Essa geração tem grandes chances de ficar surda ou semissurda antes dos 30 anos de idade.


É quase impossível resistir a suas cores e formas

Um comitê científico da União Europeia afirma que o som de 89 dB, cinco horas por semana, causa danos irreversíveis em cinco anos. O mesmo comitê estima ainda que o número de tímpanos lesados na Europa em 2015 possa chegar a 13 milhões.

Perigo!

O maior problema dos tocadores digitais é que nenhum deles exibe a quantidade de decibéis que estão sendo enviados para os ouvidos e os jovens não se atentam para isso. O ideal é não passar de 1/4 do volume máximo oferecido, mas como convencer as pessoas disso?

O caso já se tornou um problema nos Estados Unidos, México e agora Brasil, onde os otorrinos têm percebido a mudança na saúde auditiva dos jovens cada vez mais cedo. Alguns médicos chegam a afirmar que vários pacientes têm chegado às suas clínicas sem conseguir ouvir ruídos de menos de 20 dB, o que pode ser considerado uma surdez leve.


Os tocadores viraram paixão pelo mundo afora

Os fones internos, aqueles que se encaixam dentro do ouvido, são os mais perigosos já que não oferecem barreiras entre a música alta e o tímpano. Às vezes o som é tão alto que é possível ouví-lo a uma distância de um metro.

Atualmente existem mais de mil comunidades relacionadas ao iPod na página de relacionamentos Orkut. A nossa equipe encontrou duas que remetiam ao problema da surdez precoce: “Meu Ipod me dexo surdo(a)” (sic) e “MP3 já está me deixando surdo”. A quantidade de pessoas que aderiram às comunidades, no entanto, é ínfima perto daqueles que exaltam a potência de seus tocadores de música digitais.


Este é o tipo de fone mais prejudicial aos ouvidos

A perda de audição é um processo gradual e a pessoa pode demorar anos até perceber que tem este problema. O ideal é regular o volume da música em um ambiente silencioso e mantê-lo assim também em lugares barulhentos, resistindo à ação de aumentá-lo. Se estiver impossível ouvir a sua música, o melhor mesmo é desligar o aparelho.

Vocês já perceberam este problema em casa ou na escola? Identificou-se neste post? Conte-nos como é a sua relação com os seus tocadores de música e o que você faz para manter a saúde dos seus ouvidos!