Dia dos povos indígenas: uma educação do retorno pode ser a saída para o progresso

Uma reflexão sobre a história, o presente e o futuro do Brasil
Em 19/04/2024 11h43 , atualizado em 19/04/2024 11h46 Por Tiago Vechi

Homem indígena com roupas futuristas em alusão ao Dia dos Povos Indígenas
Atualmente, há mais de um milhão de indígenas no Brasil
Crédito da Imagem: Canva / Inteligência Artificial
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Abril é o mês de comemoração do dia dos povos indígenas. São celebradas inúmeras culturas e a sociedade se atenta a debater mais as condições de vida e permanência destes povos. 

Mas, um dia só… Não basta!

É preciso valorizar as culturas esquecidas ao longo da nossa história. Esquecidas em nome de uma ideia de progresso excludente, racista e perigoso para o mundo que nos cerca e sustenta.

Quanto conhecimento já não foi desprezado em nome deste progresso? Progresso este que ignora a nossa origem enquanto nação, além disso, nos impõe um futuro que não nos pertence, um futuro de mais submissão e ignorância.

Ao falar de futuro, é inevitável refletir sobre a importância da educação. Mais especificamente sobre o ensino de história, quantos de nós não aprendemos que nossas cidades foram fundadas por europeus? Quantas vezes não ouvimos justificativas absurdas para a escravização dos povos africanos?

São questões que, a princípio, nos parecem distantes. Mas, é um passado que se repete, todos os dias. 

Sempre que vemos outras culturas, que não as europeias, como atrasadas, é tirado o caráter humano de quem olha e de quem é olhado. Como se o futuro tivesse um local geográfico, ao norte, e não temporal, a nossa volta.

Dia dos povos indígenas, hora de pensar outra história do Brasil

O ensino da história pode ser um empurrão que te liberta, assim como pode ser uma corrente que te prende. Quando te ensinam uma história unilateral, onde há povos civilizadores e povos animalescos, sua visão de mundo é limitada.

Como pode, os povos indígenas, chamados de atrasados e tribais, viverem em harmonia com a natureza melhor do que a “sociedade do progresso”?

O progresso que nós temos é mesmo o que queremos? Em que pelo menos 50 milhões de brasileiros não têm saneamento básico, 20 milhões passam fome e 10 milhões de jovens (entre 18 e 29 anos) sequer concluíram o ensino médio.

Por isso, defendo que devemos ter uma educação que pregue o retorno, o retorno aos ancestrais do Brasil. Há muito que temos a aprender com eles, antes de se estruturar o progresso do país.

O ensino da história do Brasil deve falar mais sobre os quilombos, sobre os movimentos de resistência, sobre como os colonizadores se aproveitaram dos conflitos internos dos povos originários, sobre como as doenças foram utilizadas como armas biológicas…

Não mais aquela ideia de indígenas passivos à própria exploração e de europeus que trazem a "civilização e o progresso". Todos os povos têm as suas conquistas e deslizes, precisamos aprender a reconhecer a sabedoria que há na cultura indígena. 

Certamente, iremos compreender melhor a relação humano-natureza e também sobre funcionamento das comunidades humanas de uma maneira geral. Conhecimentos que têm feito muita falta nos últimos séculos e décadas em que enfrentamos má-distribuição de recursos (desigualdade social), desastres naturais e doenças, cada vez mais agressivas, que impõem o isolamento.

Basta desse progresso oco, individualista e limitante. É chegada a hora de fazer um retorno, para podermos caminhar, de fato e em conjunto, para frente.