A pré-candidatura dos democratas nos Estados Unidos

Em 18/02/2008 19h53 , atualizado em 19/02/2008 15h54 Por Marla Rodrigues

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Para quem acha política “um saco”, é hora de tentar mudar de idéia porque nada é mais atual do que as eleições norte-americanas que se aproximam para dar fim à era Bush. Sabemos que conhecendo um pouco dos candidatos a uma cadeira na Casa Branca, conheceremos também aquele (a) que pode vir a indicar os passos do resto do mundo. É fácil saber que temos que torcer por algum candidato que tenha mais carinho ao olhar aqui pra baixo, na América do Sul.

Aqui vamos acompanhar um pouco mais de perto as tendências e diferenças entre alguns candidatos e a história que cada um está construindo durante sua campanha. Hoje você fica sabendo um pouco mais sobre os principais candidatos democratas: Hillary Clinton e Barack Obama.

Os erros de Hillary

No começo de sua campanha (há um mês e meio), Hillary contava com uma vantagem de 20 pontos sobre os demais democratas. Agora tem dez pontos a menos que Obama. Para entender o que foi que aconteceu, sua assessoria preparou uma lista com os principais erros do início de sua campanha, de modo a transformá-los em acerto (ou perto disso).

1º erro: Idéia de inevitabilidade. A equipe de Hillary acreditou que a vitória da senadora na super-terça era inevitável. Por esse motivo, empregaram mal o dinheiro que tinham numa campanha curta, que eles acreditavam ser decidida no dia 4 de fevereiro. Agora é arregaçar as mangas e recomeçar um trabalho que só deve ter fim na última semana de agosto em Denver, no Colorado.

2º erro: Falta de organização. A assessoria de Clinton vai ter de conseguir mais voluntários para o trabalho de campo. Por não ter feito isto antes, ela perdeu votos em vários estados que usam o sistema de caucus (entenda).

3º erro: Falta de planejamento de imagem. Depois que perdeu em Iowa, Hillary teve que mudar de estratégia. Ela passou a responder perguntas da platéia, tornou-se mais próxima e mais emotiva (chegando, inclusive, a chorar). A mudança valeu a vitória em New Hampshire, mas depois de perder para Obama na super-terça, mudou outra vez: passou a ser mais agressiva nos anúncios em TV e rádio, fala muito das diferenças entre ela e o rival e ampliou os discursos do “fazer x falar”. Agora, só participa de comícios com platéia maior que dez mil pessoas (para dar a impressão de que pode competir com os mega-comícios de Obama).

4º erro: Tom didático. Só agora ela começou a introduzir discursos sobre o futuro da América (imitando outra tática de seu rival). Ela passou a explicar menos e polemizar mais – provavelmente por incentivo de seu marido: o ex-presidente Bill Clinton.

5º erro: Menosprezar estados pequenos. Ela não se dedicou em ampliar o número de delegados e perdeu de bobeira. Agora – ainda seguindo os passos de Obama – decidiu lutar por todas as prévias que faltam, até mesmo mandando sua filha Chelsea (avessa à imprensa) para fazer campanha no Havaí.

Acertos de Obama

Ninguém levava a pré-candidatura do senador Barack Obama muito a sério até as primárias de Iowa, no começo de janeiro, quando venceu a favorita, Hillary Clinton. O fato quase se repetiu em New Hampshire e agora ninguém mais duvida que os Estados Unidos podem eleger seu primeiro presidente negro – principalmente porque do outro lado os republicanos não têm grande popularidade, haja vista serem do mesmo partido do hilário Bush.

A grande sorte de Obama foi ter se oposto à invasão militar no Iraque em 2003, ao contrário de Hillary que não só apoiou a invasão como também o bombardeio de Beirute, em 2006. A maior questão desta campanha é saber como consertar o que o Bush fez com os Estados Unidos depois que resolveu invadir o Iraque. Obama é o único que pode falar a respeito sem parecer oportunista ou vira-casaca e diz que, se eleito, vai retirar todas as tropas até 31 de março de 2009.

Outra vantagem de Obama: a idéia de mudança. Ele é o candidato de todos os norte-americanos que não suportam mais as peripécias do atual presidente e seus políticos. Depois de vencer em Iowa, todos os outros candidatos adicionaram a palavra “mudança” em seus discursos.

Obama é a própria encarnação de mudança. Ao contrário dos demais presidentes que insistiam em demonstrar a imagem da elite branca com famílias tradicionais perfeitas, Obama é a imagem da minoria: negro, criado em um lar desfeito, usuário de drogas na adolescência e atormentado por questões raciais.

O trunfo de Barack Obama é a imagem “diferente” que apresenta diante do ninho de cobras – representação dos demais pré-candidatos. Os discursos podem parecer os mesmos, mas o que os norte-americanos vêem é mesmo a mudança: quando foi que imaginaram que um negro chegaria tão próximo de representar a Casa Branca?