O BULLYING É UM PROBLEMA SÉRIO LIGADO AOS DEFEITOS MORAIS DA NATUREZA HUMANA - Banco de redações


A prática persistente do bullying nas escolas do Brasil

Enviada em: 03/05/2024

Status:

Corrigida
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Considerando o fato de já termos entrado na terceira década dos anos 2000, é bom notar que ao longo desses anos as pessoas e a sociedade tem se atentado cada vez mais para o fenômeno do “bullyng”. Isso é bom porque denota um processo de amadurecimento moral da sociedade no sentido de que, em algum momento, tal problema possa ser superado. Por outro lado, considerando a ordinariedade (algo muito comum) com a qual tal problema ocorre, o tratamento banal dispensado por muitos, e suas trágicas consequências, é inegável que ainda há um longo e árduo caminho a ser percorrido. (Reestruture a discussão apresentada)

Primeiramente, é importante trazer à tona como referência o caso amplamente divulgado entre os dias 15 e 19 de abril de 2024, relativo a um adolescente de 13 anos que acabou vindo a óbito em razão de sofrer agreções em sua escola, no litoral de São Paulo (https://g1.globo.com/sp/santos-regiao/noticia/2024/04/18/adolescente-de-13-anos-morre-apos-ter-sido-agredido-pelas-costas-por-dois-estudantes-em-escola-no-litoral-de-sp.ghtml) (Coloque apenas a fonte). Esse caso é um bom exemplo do fenômeno do bullying, pois apresenta diversos elementos ligados ao mesmo que, pela frequência com a qual ocorrem, tendem a ser banalizados e negligenciados pelas pessoas, recebendo atenção apenas após a ocorrência de um resultado extremo, como a tragédia da morte desse menino. Segundo a reportagem, temos que o pai do garoto afirma que seu filho sofria bullying e que era comum o garoto ser agredido na escola; temos que em razão da última agressão física, a qual resultou em sua morte, o pai chegou a levar o menino por 3 vezes no posto de pronto atendimento, onde era apenas medicado e encaminhado a regressar para a casa, sendo que somente na 4a vez em que o pai levou o garoto em outra unidade de pronto atendimento, é que o mesmo foi internado e entubado, mas já era tarde demais para preservar a sua vida. Peguemos este exemplo e pensemos quantas vezes as pessoas foram negligentes com esse garoto. Há quanto tempo as autoridades escolares faziam vista grossa para o bullying sofrido por ele? Quantas oportunidades o pai teve para provocar a escola ou as autoridades públicas em razão de eventuais queixas ou sintomas apresentados pelo menino? E quanto ao socorro médico, como teria transcorrido os 3 primeiros atendimentos para negligenciar a realização de exames? O que faz com quê algumas pessoas recebam maior credibilidade de suas queixas e outras não? Concordando com a Beth Veloso, se por um lado a reação da mídia é de inconformismo e revolta com a tamanha violência desses casos, por outro é lamentável a forma superficial e pouco contextualizada com a qual o bullying e suas consequências é abordado. (Melhore a apresentação da discussão)

Em janeiro de 2024 entrou em vigor uma lei que tanto criminalizou a conduta do bullying quanto trouxe um bom conceito a respeito: “Intimidar sistematicamente, individualmente ou em grupo, mediante violência física ou psicológica, uma ou mais pessoas, de modo intencional e repetitivo, sem motivação evidente, por meio de atos de intimidação, de humilhação ou de discriminação ou de ações verbais, morais, sexuais, sociais, psicológicas, físicas, materiais ou virtuais” (Art. 146-A, Código Penal, DL 2848, de 1940). Há quem afirme que tal definição ainda seja deficiente para explicar esse fenômeno, compreensível em razão da necessidade da objetividade da lei penal, mas ainda assim impera o consenso de que tal enunciado permite a todos terem boa concepção do que seja o bullying. No universo das vítimas desse mal, tragédias como a do adolescente paulista são relativamente raras, assim como também ocorreu com o jovem autista Carlos Gomes, dentre vários outros casos. O mais comum é que todo o dano sofrido pelas vítimas resultem em problemas sem aparente correlação com o bullying, como problemas crônicos de saúde, depressão, limitações comportamentais ligadas ao isolacionismo, a dificuldades de desenvolver relacionamentos afetivos, de amizades, ou de se colocar bem no mercado de trabalho, dentre vários outros. Segundo artigo recente da Harvard Review of Psychiatry, uma mulher que sofreu bullying quando criança tem 27 vezes maiores chances de sofrer transtorno de pânico em sua vida adulta, sendo que entre os homens, essa mesma agressão aumentou em 18 vezes os pensamentos suicidas. Também pode-se considerar os casos que envolvem condutas quase terroristas de jovens, os quais entram armados em escolas e matam diversas pessoas de forma aparentemente aleatória. Na quase totalidade desses casos, os atores foram jovens que sofriam bullying nessas mesmas instituições. Isso demonstra que as consequências do bullying são muito mais complexas e nocivas do que a maioria das pessoas podem pensar, e apesar de nem todas as vítimas sofrerem uma morte direta em razão das agressões, isso não diminui o problema, tampouco indica que as vidas dessas vítimas não sofreram danos irreparáveis, o que impõe na humanidade o dever de condenar e combater o bullying. (Não compreende a estrutura do texto)

A título de fomentar maior reflexão sobre o problema do bullying, bem como uma melhor compreensão sobre o assunto, é indispensável considerarmos alguns fatos sociais. Não restam dúvidas de que o bullying seja algo tão antigo quanto à própria humanidade. Assim como afirma Louise Arseneault, professora de psicologia do desenvolvimento da Universidade King's College London, no Reino Unido: “as pessoas costumavam pensar que o bullying nas escolas é um comportamento normal e que, em alguns casos, poderia até ser algo bom - porque forma o caráter.” (...) “Demorou muito tempo para [os pesquisadores] começarem a considerar o comportamento de bullying como algo que pode ser realmente prejudicial.” Sob uma perspectiva um pouco diferente, pautada na tese de que a “história oficial é a versão contada pelos vencedores do conflito”, é fácil concebermos como uma estrutura de exploração e poder, de estigmatismos de papéis sociais mais e menos virtuosos, tanto são produzidos quanto reproduzidos nos primeiros anos da vida humana, como se as escolas fossem um esboço para a vida social adulta. Através do bullying se estabelece papéis sociais, o papel daquele que pode ser tratado com menos dignidade, o papel do vilão que desrespeita os limites dos valores estabelecidos (que pode ser tanto a vítima, aquele que não aceita tratamento menos digno e reage de forma desproporcional em sua defesa, quanto o agressor, que passa dos limites aceitáveis de exploração e abuso do mais vulnerável) o papel do herói que intervém a fim de evitar exageros e garantir a manutenção da ordem, a delimitação dos grupos mais desejados e daqueles menos indesejados, etc. Também podemos fazer a mesma abordagem através de um viés mais biológico, utilizando as expressões alfa, beta, gama, etc., pra representar pessoas e grupos de maior ou menor prestígio social.

Nesse aspecto, é muito importante observar o comportamento humano infantil pois o mesmo tende a ser mais natural, instintivo da espécie, tendo em vista que a criança ainda não foi completamente condicionada aos parâmetros comportamentais da sociedade civil. Essa abordagem serve para explicar a razão pela qual algumas pessoas são mais propensas a aceitarem o bullying em relação a outras. Enquanto algumas pessoas são condicionadas a serem menos valorizadas socialmente, outras são condicionadas a serem mais valorizadas nesse mesmo sentido, e aqueles que ascenderam nesse processo enxergam o bullying com bons olhos, fazendo apenas pequenas ressalvas em relação a limites morais pessoais. Cabe, portanto, a percepção de que o bullying se encontra muito mais ligado à natureza humana do que se pode imaginar, relacionada a desejos de exclusividade, competitividade, prestígio, imposição ou condenação de valores ou comportamentos, etc. Tal abordagem amplia sobremaneira a percepção sobre o bullying, a começar para explicar a eventual omissão das autoridades escolares diante desse problema. Existe um parâmetro pedagógico direcionado à educação dos jovens no sentido de estimular que os mesmos resolvam os próprios problemas. A questão é, até que ponto a autoridade escolar deve ou não intervir? Percebam um paralelo entre a necessidade ou não de intervenção estatal no mercado. A intervenção de uma autoridade superior serve tanto para alterar quanto para conservar relações de poder e de valores. Percebemos, portanto, que a escola é, de fato, um esboço da vida social adulta. Fazendo uma relação mais sensível, não seria o feminismo, considerado em sua completude (fazendo parte do mesmo todas as expressões invocadas em seu nome, sejam elas mais ou menos extremistas) um bullying legitimado contra o gênero masculino?

Quanto ao melhor desenvolvimento das autoridades escolares, é nesse sentido que aponta um dos mais promissores projetos direcionado ao combate do bullying, o programa Olweus Bullying Prevention, desenvolvido pelo falecido psicólogo sueco-norueguês Dan Olweus, que ingressou nos primeiros estudos sobre vitimização infantil. Há muitas questões desse programa que merecem um melhor desenvolvimento e abordagem para se harmonizar melhor com outros campos do saber, como a forma como o instituto da “vitimização” é abordado, mas ainda assim o programa se mostra de forma muito promissora. Basicamente, o programa estabelece a necessidade da escola estabelecer de forma clara ao corpo docente quais são os comportamentos aceitáveis e inaceitáveis, bem como as sanções de se violar as regras, garantindo que não haja impunidade, sendo que a postura das autoridades (os adultos) devam representar a referência para se estimular o bom comportamento. Percebe-se alguma semelhança com a ordem jurídica de um Estado Democrático de Direito? Isso indica que, o desafio para o combate ao bullying não está em encontrar soluções, mas sim em se aplicar e promover ações concretas no tocante a preservar as pessoas desse mal.

Nesse eterno processo de desenvolvimento social, o que podemos constatar, no final das contas, é que a sociedade continuará estabelecendo valores que devem ser preponderantes em relação a outros, o que é absolutamente normal. A grande questão que é desejável é a de que esse processo seja direcionado e uma evolução ética e moral, no sentido de maior promoção de valores mais universais e nobres, afastando-se cada vez mais do identitarismo moral que continua a legitimar o bullying em suas mais diversas formas, que nada mais é que a manifestação da ganância, vaidade e violência humana. O caminho, portanto, é o de que cada indivíduo se conscientize cada vez mais da importância da empatia e do comportamento ético, ao mesmo tempo em que se deve repudiar ideologias que condenam ações em razão de sua autoria e não pela ação em sí (a exemplo do “ódio do bem”, ações justificadas pela “dívida social”, vingança social, etc.).

Comentários do corretor


Lembre-se: há um limite de 30 linhas para desenvolver as discussões. Delimite e explore as discussões de acordo com a estrutura do texto. Não deixe de exercitar a sua escrita. 


Competências avaliadas


Competência Nota Motivo
Domínio da modalidade escrita formal 120 Nível 3 - Demonstra domínio mediano da modalidade escrita formal da língua portuguesa e de escolha de registro, com alguns desvios gramaticais e de convenções da escrita.
Compreender a proposta e aplicar conceitos das várias áreas de conhecimento para desenvolver o texto dissertativo-argumentativo em prosa 40 Nível 1 - Apresenta o assunto, tangenciando o tema ou demonstra domínio precário do texto dissertativo-argumentativo, com traços constantes de outros tipos textuais.
Selecionar, relacionar, organizar e interpretar informações em defesa de um ponto de vista 40 Nível 1 - Apresenta informações, fatos e opiniões pouco relacionados ao tema ou incoerentes e sem defesa de um ponto de vista.
Conhecimento dos mecanismos linguísticos necessários para a construção da argumentação 160 Nível 4 - Articula as partes do texto com poucas inadequações e apresenta repertório diversificado de recursos coesivos.
Proposta de intervenção com respeito aos direitos humanos 120 Nível 3 - Elabora, de forma mediana, proposta de intervenção relacionada ao tema e articulada à discussão desenvolvida no texto.
NOTA FINAL:     480


Veja abaixo a nota relacionada a cada nível
Nível 0 Nota 0
Nível 1 Nota 40
Nível 2 Nota 80
Nível 3 Nota 120
Nível 4 Nota 160
Nível 5 Nota 200