Separar ou não: eis a questão?

No mesmo dia da abertura das Olimpíadas, a Geórgia decidiu atacar a província da Ossétia do Sul, calculando que a Rússia não reagiria com tanta rapidez pelo fato do premier russo estar na China. Ainda que o presidente russo, Dmitri Medvedev, estivesse em seu país, ele é considerado por muitos apenas um boneco do ex-presidente e atual primeiro ministro Vladimir Putin.

A região da Ossétia do Sul possui por volta de 75 mil habitantes e é marcada por conflitos separatistas, já que parte da população possui passaporte da Geórgia e a outra, passaporte e cidadania russa. Os habitantes deste lugar exigem a separação da Geórgia e a incorporação ao território da Rússia. Para dificultar ainda mais a situação da Geórgia, a província de Abkhazia que faz, praticamente, as mesmas exigências, entrou no conflito mandando voluntários para Ossétia do Sul.

De acordo com a Geórgia, a invasão à Ossétia do Sul pode ser justificada pelo fato de que os separatistas intensificaram seus ataques a civis na última semana, enquanto o governo ofereceu um cessar-fogo unilateral. Inicialmente a Geórgia declarou que 80% dos mortos eram militares mas, de acordo com o seu presidente, na verdade 90% dos mortos são civis. A Rússia, ao contrário do que a Geórgia esperava, respondeu imediatamente aos ataques à província, resolvendo invadí-la e expulsar as tropas georgianas, sob a alegação de que precisa defender o povo da Ossétia do Sul, uma vez que muitos possuem cidadania russa e, se não o fizesse, haveria a chamada “limpeza étnica”.


Ossétia está localizada entre Rússia e Geórgia

A rápida e desproporcional invasão russa levantou questões sobre a verdadeira independência dos países que constituíam a antiga URSS (União das Repúblicas Socialistas Soviéticas). Em 2003, a Revolução Rosa, retirou do poder Eduard Shevardnadze e instituiu o atual presidente Mikheil Saakachvili, que prometeu um país democrático, unido e independente. A ascensão de um presidente pró-Ocidente, que já pediu para que o país faça parte da OTAN, preocupou alguns componentes do governo russo, que não concordam com essa política de independência das antigas repúblicas soviéticas. Desde então, segundo a Geórgia, a Rússia incentiva os separatistas a atacar o país, comprometendo a posição de mediador do conflito que este último país ocupa.

As implicações vão além do mundo político: o conflito pode ainda aumentar o preço do petróleo que vinha sofrendo quedas, após semanas de alta no preço. A posição geográfica da Geórgia, próxima das reservas de energia do Mar Cáspio e da Ásia Central, torna o país um centro estratégico.

A reação dos países europeus e dos Estados Unidos foi de condenar o ataque mas, mesmo assim, alguns países expressam descontentamento com a provocação da Geórgia no último dia 8 de agosto. A Geórgia apontou a dependência dos países europeus das fontes de energia russa como uma das razões para que os países europeus não expressassem uma condenação mais forte. Para Saakachvili, o Ocidente deveria fazer mais, já que o que aconteceu com o país mostra o poder quase ilimitado da Rússia sobre as antigas repúblicas soviéticas que agora não se sentem mais seguras.

Mesmo com o cessar-fogo declarado pela Rússia no início desta semana, a Geórgia atesta que os ataques russos continuam e que a ocupação é de 50% de seu território. Em meio a isso, os EUA posicionaram-se afirmando que deste episódio o governo russo não sairá impune. Cabe aqui a questão: quais serão, então, as retaliações?

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