O noviço

Ambrósio era um homem malandro que se casara com Florência apenas por elas ser uma viúva muito rica. Era padrasto dos dois filhos dela, Emília e Juca, e ainda havia Carlos, sobrinho de sua esposa que vivia sob sua guarda.

Florência era totalmente cega em relação a Ambrósio, achando-o um homem perfeito e se sentia uma felizarda por entre tantos pretendentes ter escolhido um que a amava de verdade e que não estava interessado em seu dinheiro.

Assim, Ambrósio tinha uma influência tremenda sobre a esposa, que acatava a tudo o que ele dizia. Foi desse modo que ele a fez concordar em mandar Carlos para o convento, porque assim a herança dele ficaria com a tia – vale dizer que Florência se importava muito em se auto-satisfazer – e ainda a convenceu de mandar Emília e Juca ao convento também porque assim não era preciso gastar com eles, por exemplo, quando fossem casar.

Carlos, no entanto era um rapaz arteiro e como odiava o convento fugiu de lá, depois de muitas confusões em que já tinha se envolvido. Foi numa dessas duas fugas que falou com Emília. Os dois claramente se amavam. E ele discursou a ela de como era errado obrigar as pessoas a seguirem carreiras que não queriam. Quando ele ficou sozinho na casa viu chegar ali uma mulher chamada Rosa.

Tratava-se da primeira esposa de Ambrósio, a quem ele abandonara há seis anos. Ela, descobrindo que ele estava vivo, veio do Ceará até a corte atrás do marido traidor. Carlos, que falou à mulher, sabia que Ambrósio era o culpado por sua ida ao convento e agora tinha condições de se livrar do homem.

Quando todos voltaram à sala antes de saírem para a missa, Carlos enfrentou com humor ao marido da tia dizendo que não voltava ao convento e ainda lhe mostrou Rosa, que estava fechada em um quarto. A reação dele foi tomar Florência e Emília e sair correndo com elas porta afora. Nisso, meirinhos e o padre mestre do convento vieram buscar Carlos e ele, muito esperto, trocou suas roupas com Rosa, com o pretexto de que viriam buscar a ele e isso impediria que ela fosse levada. Assim, ele vestido como mulher ficou e a pobre com a roupa de frade foi levada ao convento.

Nesse momento, Ambrósio voltou à casa e vendo Carlos vestido com as roupas de Rosa começou a falar-lhe, afirmando que fosse embora porque senão a mataria. Então Carlos se revelou e viu o marido da tia negar que tinha outra esposa, mas assim que ele mostrou a certidão de casamento, Ambrósio já mudou o tratamento com o rapaz. Seguidamente, os dois fizeram um acordo. Carlos, Emília e Juca estavam livres do convento, ele se casaria com a prima e teriam o dinheiro que lhes pertencia. Somente assim ele não falaria nada e depois até entregaria a certidão a Ambrósio.

Neste tempo, a tia e a prima voltaram para casa. Florência assustou-se ao ver Ambrósio falando com outra mulher dentro de sua casa. Mas logo eles se explicaram, Carlos se revelou a elas e falou que os dois estavam a ensaiar uma comédia para divertir a família e que, conversando, Ambrósio viu que o convento não era a melhor opção para os jovens da casa. Carlos deveria sair do convento e se casar com Emília, pois era claro que se amavam.

Florência, que acatava a tudo que o marido dizia, acabou por aceitar. A esse momento o padre mestre chegou e contou que vieram buscar Carlos e acabaram por levar uma mulher que estava vestida de frade e que isso foi um escândalo dentro do convento. Durante essa narração, Ambrósio não parava de perguntar sobre a tal mulher. A resposta deles ao padre foi dizer que Carlos não seria mais mandado ao convento e assim eles só teriam que conversar com o chefe do convento para que o rapaz fosse dispensado.

Depois que o padre mestre saiu, Florência perguntou ao marido por que ele estava tão interessado na tal mulher, por que se assustara tanto ao vê-la dentro do quarto e por que depois disso saíram apressadamente. Ambrósio tentou inventar uma mentira, mas acabou em meio a declarações de amor a Florência, falando que se tratava de uma mulher que ele amara antes de conhecê-la, estava quase a dobrando quando Rosa chegou e revelou a verdade.

Em seguida ele fugiu. Nos dias seguintes Florência passou muito mal, sempre se lembrando do traste. Carlos, que fora levado de volta ao convento, fugira outra vez e estava escondido na casa da tia, debaixo da cama, quando ouviu rumores. O fato seguinte foi a tia entrar no aposento, receber ali o padre mestre, que contou a fuga de Carlos e disse que ele seria liberado do convento, desde que passasse pelo castigo por ter fugido. Em seguida, entra um outro padre.

Este quando entrou fechou-se no aposento com Florência, ela acreditava que era o confessor que ela tinha pedido, mas na verdade tratava-se de Ambrósio, que viera lhe pedir dinheiro para fugir senão a mataria. O ato seguinte foi de gritos de socorro e corre-corre.

Depois disso, os vizinhos chegaram e ficaram dentro da casa sozinhos para pegar o “ladrão”. Mas quem acabou levando uma coça foi Carlos, que foi perseguido pelos vizinhos. Seguidamente, Florência recebeu a visita de Rosa e as duas resolveram juntar-se para vingar-se de Ambrósio, o incrível era que ele, para não ser pego pelos vizinhos, se escondera dentro do armário e, felizmente, o armário caíra, deixando-o preso. Quando as duas mulheres conversavam, ele tirou uma das tabuas do armário, pois estava abafado, e assim elas o viram.

Logo começaram a bater nele, até que chegaram os meirinhos trazendo preso Carlos. Logo a tia e Rosa esclareceram que aquele era o sobrinho dela e que quem devia ser preso era o homem que estava dentro do armário, tinham até o mandado de prisão.
Quando o estavam levando, ele disse que Carlos também tinha que ir preso, pois era fugido do convento, mas a isso chegou o padre mestre dizendo que não era necessário, pois ele tinha sido dispensado da instituição. Assim, só Ambrósio foi levado preso, enquanto dizia que uma só mulher já pode desgraçar um homem, quanto mais duas.

Por Rebeca Cabral