Aline de Melo
Falar de psicologia é simples, mas não fácil...
Meu processo de escolha profissional não teve os dramas e dúvidas que normalmente passamos nessa época.
Observei nos cursos em oferta as matérias específicas que eu teria que estudar e uma das melhores opções foi o curso de psicologia, pois história e biologia eram duas das matérias com que eu tinha melhor relação.
Além disso, o mercado de trabalho do psicólogo me pareceu um mercado em expansão, diante de todos os problemas do mundo atual, e a tarefa de cuidar de pessoas me encantou desde o início.
Decisão praticamente tomada, a partir daí a magia dessa profissão começou a se apresentar a mim.
Eu via a psicologia no cotidiano das pessoas. Comecei a ler livros sobre o assunto e a maneira como a vida era valorizada e muitas vezes resgatada pela ação desse profissional era encantadora... aos poucos, me vi acreditando que minha história de vida e minha personalidade me levavam a esse curso.
Criei foco, e saber com certeza o curso que queria foi fundamental nos últimos anos. Eu terminei o terceiro ano, não passei no vestibular da Universidade Federal do Ceará (UFC) e, como não tinha psicologia na estadual (UECE) ainda, comecei a cursar pedagogia lá e continuei estudando para o vestibular. Mas acabou não dando certo de novo e eu decidi deixar a faculdade e voltar para o colégio.
Essa decisão não foi fácil, mas necessária, e eu não via outra opção. As pessoas me diziam que eu estava largando uma coisa certa, que eu havia conquistado com mérito e que era melhor eu me formar e seguir outra área depois de formada.
Mas eu tinha foco. Tinha planos e sonhos pautados na ideia de me tornar uma psicóloga, e não me passava pela cabeça trabalhar com outra coisa.
Sair da faculdade depois do primeiro semestre foi dificil, tinha feito amigas e eu adorava ser universitária, adorava os professores, o clima da estadual... infelizmente, não era ainda o que eu queria.
Foi ainda mais difícil começar um cursinho, voltar para o clima de colégio e me envolver de novo com as pessoas ali. Eu tinha outra mente já, e não me encaixava naquele lugar. Foi um ano especialmente complicado, recheado de muita pressão, mas no final do ano consegui entrar como classificável para o curso de psicologia na Universidade Estadual do Ceará.
Cursar psicologia na UECE não deixou de ser uma surpresa, porque quando eu me formei no terceiro ano o curso só fazia parte da federal, então era ali que eu me imaginava. Mas eu não demorei muito pra descobrir que essa era uma boa surpresa!
O curso na UECE é novo, minha turma foi a segunda, fomos recebidos como os filhos mais novos de mães e pais que esperaram muito por esse momento. Tudo foi minuciosamente preparado para nos deixar à vontade, estimulados, felizes de estarmos ali.
Eu lembro que tudo na primeira semana me encantou. Essa semana foi dedicada à apresentação do curso, da universidade, com palestras de funcionários e psicólogos, e o trote planejado pelos veteranos. O que mais me chamou atenção foi a energia com que as pessoas falavam da psicologia, o brilho nos olhos, a empolgação, a felicidade em estar ali falando para novos alunos. Eram pessoas que após anos de formados ainda abriam um sorriso ao falar da profissão.
Na primeira semana, e ao longo do primeiro semestre, além dos trotes e do contato com os veteranos a gente pôde saber dos professores o que a UECE trazia de novidade e o que ela tinha como diferencial em relação aos outros cursos de psicologia daqui e dos outros estados.
O nosso currículo é o mais novo, traz umas mudanças bem significativas em relação aos anteriores, e os professores que fazem parte do colegiado são, na sua maioria, os que participaram desde o início do projeto do curso. Assim, são todos muito comprometidos com a qualidade das nossas aulas, comprometidos com uma boa relação com os alunos, e com a potencialização da nossa formação.
Embora seja um curso bem novo, já tem muitos projetos na área, os alunos são estimulados – e muito – a participarem de encontros acadêmicos, cursos, e a produzirem artigos e trabalhos para apresentação em congressos. Tanto estímulo chega a gerar uma pressão às vezes desconfortável e nos deixar cansados, mas já vimos que é uma coisa necessária para uma melhor formação.
Além do estímulo por parte dos professores, há projetos de pesquisa que atualmente envolvem quase metade dos alunos da minha turma como bolsistas ou participantes.
Em virtude da reformulação da grade curricular, o nosso primeiro semestre teve muito de psicologia, em vez das esperadas disciplinas de introdução. Foi muito interessante já começar com estudos específicos.
Antes de entrar no curso eu já me imaginava atuando na área escolar, com estratégias para prevenir possíveis transtornos que os alunos possam ter ainda na época escolar ou no futuro. Fiquei muito feliz quando, ainda no primeiro semestre, tive contato com um laboratório de pesquisa na universidade que se propunha a estudar isso: o papel da escola na promoção de saúde mental e na prevenção do sofrimento psíquico. Fiz o teste de seleção e consegui entrar como bolsista desse laboratório, onde vejo na prática como o psicólogo pode atuar na instituição escolar e onde posso colocar em pauta meus pensamentos sobre o assunto e saber na prática até que ponto eles são coerentes.
Além disso, o laboratório me abre muitas oportunidades no meio acadêmico, é um local de estudo que rende artigos científicos, define minha linha de pesquisa dentro da universidade, ajudando em meus futuros projetos de pesquisa e monografia, e me põe em contato com colegas e professores que agregam conhecimento à minha formação.
Com isso, eu me preparo melhor para o mercado de trabalho, que é o grande objetivo e desafio do estudante universitário. Minha grade curricular também investe nessa preparação através das disciplinas chamadas de PIT – Práticas Integradas de Trabalho – são as práticas que, enquanto muitos estudantes só terão contato no fim do curso, para a gente já começa a partir do terceiro semestre e a cada semestre o PIT está relacionado a outras disciplinas que estamos cursando.
O mercado de trabalho em psicologia está em crescimento; hoje as empresas têm necessidade de contar com o apoio desse profissional tanto na contratação de funcionários como na manutenção da qualidade de vida dos mesmos. Escolas e hospitais também incluem psicólogos nas equipes, além de outras especializações como psicologia jurídica, social, do trânsito, do esporte, etc.
Além disso, a psicologia clínica tem conseguido, aos poucos, romper o preconceito e críticas de elitismo, e tem ajudado mais pessoas, abrangendo um público maior, inclusive com a lei que inclui o serviço de psicologia clínica nos planos de saúde.
Ainda assim, precisamos enfrentar desafios, como baixos salários e poucos concursos públicos na área, assim como falta de leis que protejam o profissional e a “luta” contra o projeto do ato médico. Mas eu considero que estas dificuldades em relação ao mercado de trabalho são próprias do mundo atual, onde temos que investir em diferenciais que nos tornem mais preparados para a profissão. E é isso que eu tenho tentado fazer.
A universidade pública ainda precisa de muitas melhorias, e a estrutura de um curso novo não é satisfatória logo de início, então ainda temos que lidar com falhas nesse aspecto. Mas a dedicação das pessoas que fazem o curso faz a diferença.
Enfim, a mensagem que esse depoimento deve passar é: tenha foco. Invista onde estão seus sonhos, porque só assim você terá dedicação para ir mais longe, apesar de qualquer obstáculo.
Aline Guilherme de Melo é estudante de Psicologia da Universidade Estadual do Ceará (UFC) - texto publicado em setembro de 2010