A China que a China não mostra
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Os jornalistas que estão cobrindo as Olimpíadas têm acesso à internet desbloqueada em uma sala restrita aonde chineses sequer sonham estar. O ativista Hu Jia e o advogado Teng Biao publicaram um manifesto chamado “A verdadeira China e as Olimpíadas” e por conta disto Hu Jia foi condenado a 3 anos e meio de prisão no início deste mês. O texto está em inglês, na íntegra, no site do Washington Post.
Logomarca das Olimpíadas 2008
Este texto conta que quando Beijing ganhou o direito de sediar as Olimpíadas de 2008, em 13 de julho de 2001, a China prometeu ao mundo melhorar os direitos humanos no país, pois as Olimpíadas sempre tiveram a missão de promover a dignidade humana e a paz no mundo. O slogan da China para este evento é “Um mundo, um sonho”. Muitos acreditaram que este seria o momento histórico da mudança da China.
O progresso está no país e todas as coisas lindas e exorbitantes que são vistas foram construídas sob base de muitas lágrimas, prisões, torturas e sangue. Para obterem o espaço necessário para a construção de ginásios e estádios, a China desocupou milhares de famílias de suas casas sem a devida recompensa pelo prejuízo causado. Aqueles que se opuseram à demolição de suas casas foram presos e torturados.
Para estabelecer a imagem de “cidade civilizada”, o governo baniu pedintes, mendigos e sem-tetos, levando-os para a prisão ou repatriando-os se fosse o caso. Os vendedores ambulantes também foram banidos de alguma forma quando tiveram seus bens confiscados pelos agentes municipais.
A China tem constantemente perseguido ativistas dos direitos humanos, dissidentes políticos e jornalistas autônomos. O ativista Chen Guangcheng está cumprindo sua pena de 4 anos e 3 meses por ter dito a verdade sobre os abortos forçados e a esterilização dos homens (prática usada pelo governo para conter o crescimento populacional). Pelo menos 35 jornalistas chineses e 51 escritores estão presos, vítimas da “inquisição literária”.
Protestos em todo o mundo alteraram o percurso da tocha olímpica
A liberdade religiosa também está sob pressão. Em 2005, um pastor de Beijing foi condenado a 3 anos por ter impresso bíblias. Outro pastor de Xinjiang foi acusado de cometer operação ilegal por receber dúzias de caixas contendo bíblias. Mais de cem missionários de diversos países foram expulsos da China, entre eles estavam humanitários e professores que ensinavam inglês no país há mais de 15 anos. Ah! E também proibiu Dalai Lama, líder espiritual do Tibete, de voltar ao Tibete ou à China (ele hoje vive na Índia).
O líder espiritual do Tibete, Dalai Lama
A China possui o maior número de execuções de pena de morte no mundo. As estatísticas, porém, são tratadas como segredo de estado pelo governo. Os estudiosos acreditam que entre 8 e 10 mil pessoas são mortas todos os anos, entre “culpados” e inocentes. A tortura é uma prática comum nas detenções da China. Os presos são torturados com choques elétricos, queimaduras, espancamento, sufocamento e têm seus dedos furados por agulhas até que confessem seus “crimes”.
A China também possui o maior sistema de polícia secreta do mundo, podendo facilmente rastrear, seguir, prender e torturar pessoas. Os cidadãos chineses não podem eleger e nem serem eleitos como representantes do povo. O último que tentou uma candidatura independente “desapareceu” em março de 2007. Além disso, existe uma discriminação enorme sobre a população rural chinesa. O voto de um camponês vale apenas um quarto do voto de um cidadão residente na cidade.
Com tantos motivos, fica fácil compreender porque o Tibete quer tanto separar-se da China. Até agora não houve um único lugar em que a tocha olímpica tenha passado sem gerar protestos. E vocês? O que acham? Um país como este poderia ter sido escolhido como sede dos jogos que unem as pessoas e promovem a dignidade humana?
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