A paraense Daphne Gitirana, 20 anos, desde que terminou o ensino médio, em 2014, tenta ingressar na faculdade de Medicina. Ela sempre contou com o apoio dos pais para alcançar esse sonho, mas esse ano a ajuda veio de forma inusitada: o pai José Gitirana, de 46 anos, começou a se preparar para também tentar uma vaga no curso de Medicina.
José, que hoje é farmacêutico em Belém, conta que sempre sonhou em ser médico, mas que as condições financeiras não contribuíram para que alcançasse esse objetivo antes. “Eu vim de família pobre e logo que terminei o ensino médio tive que trabalhar para me sustentar”, explica.
O vestibular de Medicina ficou para depois, pois José Gitirana optou por fazer um curso Técnico em Enfermagem para começar a trabalhar logo. Atuou durante 20 anos na área, sem deixar de lado o sonho do curso superior. Foram três vestibulares prestados para o almejado curso de Medicina, sem o resultado esperado.
Por fim, sem ter muito tempo disponível para estudo, José resolveu fazer o curso de Farmácia e trabalhar na área. Foi aprovado no vestibular em 1999 e terminou o curso em 2004.
Retomando o sonho
Em 2016, depois de mais de dez anos de formado, trabalhando na área e pai de família, José Gitirana resolveu fazer as provas do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). Mesmo sem estudar, o bom desempenho na prova fez despertar outra vez o antigo sonho de se tornar um médico.
Além da preparação teórica para as provas, o experiente farmacêutico acredita que a maturidade é um ponto a favor neste projeto. “Agora já tenho a maturidade e experiência suficiente para saber o que eu desejo realmente e isso me deu o norte de nunca mais abandonar esse projeto”, explica. “Só vou sossegar quando eu for médico, pois estou determinado”, desabafa o pai de Daphne.
De pai para filha
Na luta por uma vaga no curso de Medicina desde que terminou o ensino médio, Daphne fez cursinhos e chegou a passar para outros cursos como Veterinária, Fisioterapia e Farmácia. Neste ano, além das aulas tradicionais, optou por videoaulas on-line para o Enem.
Segundo a jovem, o apoio da família sempre foi fundamental para não desistir do sonho. Agora, com o pai estudando junto, Daphne diz estar ainda mais motivada. “Sinto a necessidade de conquistar o mesmo objetivo que ele e proporcionar não só pra mim, mas também para meus familiares, a sensação de ter dois calouros de Medicina”, revela a estudante, que compartilhou seus livros para ajudar o pai nos estudos.
Rotina
Apesar de terem o mesmo foco, a programa de estudos não é o mesmo. O pai, que tem sua rotina de trabalho, dedica tempo aos estudos apenas à noite e aos finais de semana. Já Daphne consegue ficar por conta dos estudos, graças a ajuda dos pais. Além do cursinho, ela assiste videoaulas e resolve provas anteriores do Enem.
José conta que um dos benefícios de estudar em casa é ganhar tempo. “Não perco tempo com deslocamento e posso dedicar mais horas aos estudos”, explica. Por conta disso, o principal meio de estudos são as videoaulas, que podem ser assistidas pela internet de qualquer lugar.
No entanto, sempre que há possibilidade os dois se juntam para estudar. “Trocamos ideias sobre as provas e questões, principalmente temas da redação”, conta Daphne, que sonha em ter o pai como colega de turma.
Os dois também dedicam bastante tempo para resolver exercícios de outros vestibulares que possam complementar os estudos. A estratégia é focar nas disciplinas que encontram mais dificuldades. Daphne considera Física mais difícil, enquanto o pai tem problemas com Filosofia e Sociologia.
A prioridade de José é contextualizar as matérias estudadas. Segundo ele, esta é a grande diferença da prova do Enem para as dos vestibulares de outrora. “O aluno é levado a raciocinar na hora de fazer a prova, num contexto mais atual. Naquela época, a tendência era decorar as respostas”, destaca José, pontuando as dificuldades que ele encontrou no Enem.
Juntos na Universidade
A jovem vestibulanda está tentando vaga na maioria das universidades brasileiras que oferecem o curso, enquanto o pai só nas do Pará. No entanto, não descartam a possibilidade de estudarem juntos. “Falei diversas vezes pra ele que, caso passemos na mesma universidade, vai ser incrível a experiência”, vislumbra Daphne.
José não se considera no mesmo nível da filha, pois o tempo de estudo é menor. Mesmo assim, assume que, caso seja aprovado e a filha fique na lista de espera, cederia a vaga. “Ela segue em frente com o curso de Medicina e eu tento novamente e busco outra vaga até conseguir”, declara.