São Bernardo

Por Marina Cabral da Silva

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Paulo Honório era um pobre homem do sertão. Aprendera a ler na cadeia quando o companheiro de cela lhe ensinou usando a bíblia. Trabalhara na enxada e, depois da prisão, queria ganhar dinheiro, não pensava mais na mulher que lhe causara a prisão, aprendeu matemática para não ser roubado. Percorria o sertão fazendo pequenos negócios. De alguns lugares partiu para não voltar devido a malandragens das negociatas.

Instalou-se em Alagoas, planejava tomar pra si a terra onde trabalhara na enxada. O ex-patrão vivera em economias para fazer do filho, Luis, doutor; acabou morrendo e o filho não seguiu a profissão. Paulo se vez amigo dele e em pouco tempo já tinha lhe emprestado dinheiro, a propriedade estava um lixo. Luis não tinha como pagar a dívida e foi assim que, para quitá-la, Paulo o fez entregar as terras de São Bernardo a ele.

Logo teve problemas com o vizinho Mendonça que teimava em andar com os limites de sua terra. Porém, logo ele morreu e novas fronteiras foram estabelecidas. Paulo iniciara vários projetos nas suas terras. Tinha a mineração, as galinhas, o gado, as terras cultivadas. Tornara-se um homem importante. Tinha influência e emprestava dinheiro. Certa vez, justamente por recusar um empréstimo, teve no jornal uma nota o chamando de assassino, uma insinuação à morte de Mendonça. Paulo reagiu com agressividade, pois não tinha nada a ver com o fato, depois tudo foi apaziguado.

Com a visita de um governador a São Bernardo e seus questionamentos acerca do por que da ausência de uma escola nas terras, Paulo mandou que uma fosse erguida e Luis foi contratado como professor. Recebia muito pouco, mas Paulo não tratava bem seus empregados, muito menos se preocupava com salários justos.

Depois de certo tempo veio nele a idéia de se casar. Era preciso ter um herdeiro. Foi assim que cortejou Madalena, uma professora da escola normal. O casamento nunca correu bem. Junto com Madalena veio sua tia, Madalena tinha idéia de certa forma socialista. Paulo, no entanto, era autoritário e não se interessava pela pobreza dos trabalhadores.

Madalena engravidou e teve um menino. A pobre criança não era amada pelos pais e vivia solta na fazenda. Nesse tempo um ciúme cegou Paulo que acreditava que a esposa mantinha casos com todos os homens. Ao mesmo tempo se sentia um bruto impossível de ser amado por ela. A situação se tornou tensa dentro da casa. Ele detestava a tia de Madalena e muitas vezes ela dormia a chorar. Já Paulo passava as noites em claro em meio a suas dúvidas.

Foi nesse contexto que Madalena acabou se suicidando. Daí para frente as coisas desandaram na fazenda. A tia de Madalena resolveu ir embora e Paulo deu a ela os ordenados que ficara devendo a sua esposa. Logo as produções feitas em São Bernardo perderam o valor. A pedreira estava fechada há um bom tempo, os bens cultivados não eram colhidos, pois não valia a pena o trabalho de colhê-los para depois vender ao preço absurdo que se achava na hora da venda. E os animais que eram criados morriam e se escasseavam aos poucos.

Paulo Honório ficou então a terminar de escrever o livro que iniciara onde narrava a sua vida, não tendo nem mesmo o filho, já que por ele não tinha amor.

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Por Rebeca Cabral