Feliz Ano Velho

Por Marina Cabral da Silva

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No dia 14 de dezembro, Marcelo, que já tinha bebido demais, declarou aos amigos que ia buscar o tesouro que o amigo escondera no fundo do lago e pulou em um “salto do Tio Patinhas”.

Ele não submergiu logo, a profundidade do lago era pequena, Marcelo sofreu um acidente. Os amigos o tiraram do lago, o colocaram de pé (Quando deveriam deixá-lo deitado) depois o levaram deitado para um hospital. Ele havia fraturado a quinta vértebra cervical e comprimido a medula. Os movimentos abaixo do pescoço estavam perdidos.

Marcelo era jovem, músico, vivia numa república onde moravam ele e alguns amigos. Vinha de uma condição de vida boa, o pai desapareceu na ditadura. A policial chegou e o levou, depois levou a mãe e a irmã mais velha. As duas voltaram, mas o pai nunca mais foi visto, os jornais questionavam o paradeiro de Rubens Paiva, a polícia negava envolvimento. Foi assim que Marcelo perdeu o pai.

Teve muitas namoradas, Nana, uma amiga que morava na república, não o abandonara no hospital dormindo e dando o jantar, já tinham tido uma história, Marina, uma garota da faculdade de quem ele tirou a virgindade, e tantas outras. Marcelo vivia intensamente sua vida sexual, porém no estado em que estava, e ainda com uma sonda no pênis, não sentia tanta necessidade, mas pensava nisso vendo as enfermeiras.

Ele também amava música, tinha uma banda, junto com o seu amigo Cassy, e já participara de concursos. Tocava na faculdade (Unicamp) onde estudava. A música fazia parte de Marcelo.

No hospital recebia constantes visitas de amigos como Veroca Big, a grande, Virginia por quem tivera uma grande paixão, Olaf e outros. No primeiro hospital tinha as enfermeiras que o alimentavam, os enfermeiros que davam banho. Veroca ia pra lá e ficava lendo um livro para ele. Depois arrumaram um óculos que o permitia ler deitado e também ver televisão. A mãe levava a Folha de São Paulo e danones.

Foi até que o levaram para o apartamento, lá as refeições melhoraram e ele tinha algumas vezes até sobremesa, deixou a sopinha e passou a comer arroz. O médico logo fez planos para o avanço da cura. A esse ponto Marcelo já mexia os braços, mas a sensibilidade dos mamilos para abaixo ainda não voltava. A fisioterapia se intensificava. Logo arrumaram um colete de ferro e meteram Marcelo dentro, erguiam a cama cada vez mais e assim ele ia progredindo até que conseguiu ir para a cadeira de rodas.

Nesse ponto, Marcelo voltou a morar na casa da mãe, os amigos continuavam as visitas e dormiam lá. Com a chegada de uma nova médica para ajudá-lo ele passou a comer sozinho, escrever, andar sozinho na cadeira de rodas. Já descia para piscina para tomar sol, foi ao cinema e até ia a festas.

Foi ao BBB onde faria um tratamento e começara a encarar sua nova realidade, ele adorou o lugar, havia pessoas com os mesmos problemas e que poderiam ajudá-lo a responder as suas perguntas.

Em uma das festas que foi encontrou com Bianca, irmã de um amigo. Os dois começaram a namorar, os dois dormiam juntos. Fazia um ano do acidente. Ele se lembrava dos momentos ruins, de como se sentia injustiçado, como queria voltar no tempo minutos antes do salto, de como se sentira amargurado no ano novo e as lembranças das farras anti-carnaval... Mas agora entrava numa nova fase, iria ao BBB, se trataria, teria respostas, iria curtir Bianca até que a cura chegasse.

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Por Rebeca Cabral