Auto da Alma

Por Marla Rodrigues

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Assim como os viajantes precisam de estalagens para descansar durante suas viagens, as almas dos homens também precisavam de um lugar de descanso para relaxarem da natureza do viver e poderem alcançar o paraíso permitido graças ao sofrimento do Filho de Deus. Tal local era a Igreja.

Prova disso é o caso de uma alma que seguia em sua jornada da vida, de quando em quando seu anjo vinha junto dela, era uma alma limpa de coisas feias, uma alma pura. Que seguia na jornada rumo ao paraíso. Ela pedia que o anjo ficasse com ela para lhe ajudar a resistir às coisas mundanas e o anjo afirmava que estaria sempre por perto, mas era necessário que a alma vencesse as tentações.

Foi assim que estando ela em um momento sozinha encontrou-se com o diabo. Esse muito esperto deu início à sua sedução, para levar a alma junto consigo para o inferno. Perguntava aonde ela ia com tanta presa, com o que tinha que cumprir; falava que era muito cedo para seguir na vida cristã e que mais compensava esperar ser velha e cansada porque assim desfrutaria da vida aqui e o perdão não tinha idade, então quando já esgotada tivesse buscaria a salvação.

A alma até tentou negar os convites, mas o diabo não a deixava, e assim sua jornada seguia mais lenta. Com isso o anjo veio ter com ela, insistiu que ela se animasse e que não parasse agora, porque o fim daquele caminho era muito bom, era muito recompensador. Mas bastou o anjo sair para que o diabo voltasse e a seduzisse com riquezas.

Quando o anjo retornou, encontrou a alma integre às vaidades e fortuna, questionada respondeu que fazia o que via o mundo todo fazer. O anjo tentou lhe trazer de volta para a correta jornada, falando que não morresse com aquelas vontades mundanas, mas a alma afirmava que voltaria aos caminhos do anjo quando pudesse. E assim o diabo voltou a falar-lhe.

Falou que tudo tinha tempo e que agora a alma namoraria e casaria e estaria cercada de joias. E que na velhice poderia se arrepender e ir pro Céu tendo se aproveitado de sua juventude. Assim a alma se alegrava com sua formosura.

Novamente o anjo voltou e triste lamentava pela alma perdida, questionava por que Deus permitira isso. Nesse tempo a alma já estava cansada, ferida e arrependida. O anjo a encontrando lhe falou que próximo estava um local para descansar onde seria bem acolhida. O diabo ainda lhe apareceu e a lembrou das coisas que possuía tentando novamente a persuadir, mas desta vez a alma suplicou para que ele fosse embora e ela pudesse concertar o erro que com ajuda dele cometera.

Assim, a alma e o anjo chegaram à Igreja. Esta o questionou por onde andara, ao que alma respondeu que não sabia de onde vinha e pra onde iria, mas que era uma alma carregada e pecadora, mas também verdadeiramente arrependida. Assim a Igreja lhe acolheu e chamou seus auxiliares: Santo Agostinho doutor, Jerónimo, Ambrósio, São Tomás. E prepararam iguarias para alma.

Nesse tempo o diabo e mais outro falavam. O diabo que havia desencaminhado aquela alma reclama que novamente o anjo da espada havia lhe levado uma alma já quase perdida, mas diferente do outro que afirmava que mais almas viriam, esse afirmou que conseguiria levar aquela ao inferno.

Seu objetivo não foi cumprido. A alma na igreja estava arrependida e os santos lhe preparam as iguarias. Todos à mesa, Santo Agostinho pede a Maria por aquela alma e depois ele mostra para a alma a toalha que uma mulher usou para enxugar o rosto de Cristo quando este carregava a cruz e assim todos a adoraram.

Em seguida as iguarias são apresentadas: os açoutes, a coroa de espinhos, os cravos e adoram a essas iguarias. Depois disso a alma tira o vestido que usava, estando totalmente purificada. Por fim, mostraram a última iguaria, um crucifixo. A alma então depois de ver todo o sofrimento do Criador, se torna fiel novamente a ele, vendo toda a sua culpa e Ele pagando o preço. Assim todos os santos, a igreja e o anjo saem para o jardim a fim de adorar o monumento onde está sepultado o redentor.