Ciências do Consumo

Bacharelado na área de Ciências do Consumo é ofertado somente em duas instituições brasileiras.
Por Wanja Borges

O domínio dos aspectos sociais e do comportamento humano é uma das habilidades do profissional de Ciências do Consumo
O domínio dos aspectos sociais e do comportamento humano é uma das habilidades do profissional de Ciências do Consumo
Crédito da Imagem: Shutterstock
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Até pouco tempo, as pessoas interessadas em estudar a sociedade e a cultura do consumo tinham que recorrer a cursos de pós-graduação. Essa realidade mudou no segundo semestre de 2015, quando a Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM) de São Paulo lançou uma graduação em Ciências Sociais e do Consumo.

Em 2017, o segmento ganhou reforço com o mais novo bacharelado em Ciências do Consumo da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE). Considerados pioneiros e os únicos do gênero no Brasil, os dois cursos foram criados para atender uma demanda complexa e contemporânea do mercado por profissionais que entendam o ser humano por trás do consumidor. 

Segundo as coordenadoras do bacharelado em Ciências do Consumo da UFRPE, Michelle Maciel e Laurileide Silva, a ideia de criar este curso surgiu da “necessidade de um profissional que tenha condições de analisar e compreender de forma crítica o consumo, o funcionamento da sociedade de consumo e as relações de consumo que nela se estabelecem, sobretudo o que diz respeito ao comportamento do consumidor, seus direitos no campo da legislação e as demandas e necessidades individuais e coletivas, em seus diferentes ciclos de vida e contextos socioeconômicos”.

Ministrada em oito semestres nas duas instituições, a graduação é uma boa opção para estudantes  que se identificam com as ciências humanas e são inquietos, questionadores e curiosos sobre o comportamento humano, o consumo e seus impactos, sejam sociais, políticos, econômicos e/ou ambientais. O curso é focado em uma formação crítica, ética, humanista e multidisciplinar, e não apenas técnica.

Além disso, ambos possuem um formato inovador, por meio do qual o estudante tem autonomia para traçar seu percurso formativo a partir dos seus interesses. Para isso, a partir do 4º período, eles devem optar entre três eixos de conhecimento. Apesar de serem similares na temática do consumo, as duas graduações são distintas no que diz respeito à matriz curricular e, consequentemente, às áreas de especialização e atuação.

Diferenças

Na ESPM, o curso foca em uma formação mais humanista combinada à marketing, pesquisa e gestão com a maior carga horária e quantidade de disciplinas direcionadas para a área de psicologia, mas também alinhadas à economia. Lá, as trilhas de pesquisa são: Investigação do Comportamento do Consumidor e Tendências de Mercado; Negócios de Impacto Social; e Educação Cultura e Diversidade

Já na UFRPE, a graduação possui uma estreita relação com os Programas de Pós-Graduação em Consumo, Cotidiano e Desenvolvimento Social (PGCDS) e Ciência e Tecnologia de Alimentos (PGCDS) e, por isso, oferece os seguintes pilares: Desenvolvimento Humano; Alimentos, Nutrição e Saúde; e Arte, Habitação e Vestuário.

As disciplinas obrigatórias também apresentam distinções. Na ESPM, os estudantes contam com aulas de cultura e sociedade, história contemporânea, marketing, psicologia, filosofia, estatística, comunicação e linguagem, administração, ciência política, ciência e religião, gestão de pessoas, neurociências, ética de mercado, defesa do consumidor, economia e finanças, entre outras.

Em contrapartida, na UFRPE, são abordados, entre outros assuntos, química orgânica, microbiologia, sociologia, informática, educação física, gestão, representação gráfica e comunicação visual, estatística, direito do consumidor, economia e outras disciplinas com especificidades sobre alimentos, família e sociedade, arte e artesanato e gênero.

Habilidades

Além de mapear tendências/desafios e trabalhar dinâmicas sociais, os estudantes da ESPM aprendem a compreender e até antecipar as necessidades do mercado com base na análise crítica do  funcionamento da sociedade e das relações de consumo que nela se estabelecem e, também, no estudo e compreensão de aspectos sociais e do comportamento humano, como direitos, necessidades, desejos, ambições, motivações e outros fatores.

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Eles saem da graduação com um vasto conhecimento de consumo, mercado e do ambiente de negócios e prontos para entender e interpretar a língua do mercado e compreender por que os produtos entram e saem da moda. O envolvimento em causas sociais, ambientais e áreas que envolvem a inclusão de minorias e a diversidade étnica, religiosa e sexual, também é um fator característico dos profissionais deste segmento.

Já o profissional graduado pela UFRPE é capaz de orientar sobre educação e direito do consumidor; planejar e organizar orçamento doméstico, créditos e investimentos; desenvolver atividades com grupos e instituições socioeducativas; e elaborar e executar projetos e ações de assistência técnica e extensão rural.

Os estudantes também são formados para prestar consultorias, orientar, coordenar, planejar, elaborar e executar ações e/ou atividades, relacionadas aos conhecimentos adquiridos; garantir a melhoria da qualidade de vida individual e coletiva; e ainda planejar, implantar, orientar, coordenar, supervisionar e avaliar programas, projetos e ações no campo do consumo.

Mercado

Os profissionais que concluem o curso são diplomados como cientista social e do consumo, na ESPM, e consumólogos ou cientistas do consumo, na UFRPE. Eles podem atuar em empresas privadas e instituições públicas de diferentes segmentos, institutos de ensino, pesquisa e/ou extensão, organizações não governamentais (ONGs), associações de direito e defesa do consumidor, entre outras. 

Especialistas em sociedade, cultura do consumo e comportamento humano, os profissionais deste segmento muitas vezes ocupam funções de administradores e/ou publicitários como, por exemplo, sendo assessores em institutos de pesquisas ou em agências de propaganda na área de planejamento de comunicação. 

Eles também podem atuar com pesquisas, programas, projetos e políticas públicas nas áreas de comportamento do consumidor e consumer insight e serem empreendedores ao criar seu próprio negócio de impacto social.

Para o coordenador do curso de Ciências Sociais e do Consumo da ESPM, Mario Ernesto Rene Schweriner, a graduação em Ciências do Consumo deve ter a mesma importância que o curso de Administração nos próximos 10 ou 15 anos. “Esse segmento está crescendo muito porque, cada vez mais, as empresas buscam profissionais que entendam de comportamento humano. O avanço da tecnologia acaba despersonalizando o ser humano e os relacionamentos e as humanidades são fundamentais para promover o equilíbrio. Sempre vai haver lugar para Ciências Sociais e Psicologia”, reforça.

Salário

O fato de o curso ser relativamente novo e também de possibilitar a atuação do profissional em diferentes áreas, níveis e estabelecimentos comprometem a definição de médias salariais. Por outro lado, a estimativa é que as remunerações se assemelhem às das profissões de ciências sociais aplicadas, principalmente Administração e Publicidade e Propaganda. Um profissional recém-formado, por exemplo, pode ser remunerado com um salário em torno de dois ou três salários-mínimos, enquanto gerentes e diretores podem receber o triplo.

O texto contou com a contribuição das coordenadoras do bacharelado em Ciências do Consumo da UFRPE, Michelle Maciel e Laurileide Silva, e do coordenador do curso de Ciências Sociais e do Consumo da ESPM, Mario Ernesto Rene Schweriner.