Balada x Vestibular: essa mistura é possível?

Por Marla Rodrigues

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Todo mundo ouve no 3º ano que este será o ano do sacrifício. O ano em que você terá que renunciar a tudo o que mais gosta para cair de cara nos livros. Mas será que é assim mesmo? Será que é preciso abrir mão de tudo o que é bom para passar no vestibular? Para muitos, sim, para outros, não.

Para a psicanalista Suely Marques, os estudantes devem manter o foco, mas adverte que eles não podem se privar das atividades de lazer. Muitos são os estudantes que viram pacientes em clínicas de psicologia por não saberem lidar com o stress e a pressão que atormentam os vestibulandos. É pressão de pai, de mãe, de escola e, muitas vezes, até deles mesmos. O vestibular é importante, sim, mas como todas as outras coisas na vida, deve-se evitar o exagero.

O que fazer, então?

O ideal é manter o ritmo, estudar um pouco todos os dias, não deixar tudo para a última hora e revisar ao longo do ano todo. Assim fez Izabela Viegas, 27, estudante de Direito da Universidade de Coimbra, em Portugal. Ela, que prestou o vestibular das três maiores faculdades de Minas Gerais, foi aprovada em todas, fez um pouco do curso no Brasil e agora vai terminar a graduação em um dos mais conceituados cursos de Direito do mundo. Izabela afirma que tinha uma rotina diária de estudos de aproximadamente 5 horas, no entanto, reservava o sábado e o domingo para descansar. “Era como se fosse um trabalho: estudava de segunda a sexta e me distraía aos fins de semana”.

Outra estudante que não se “sacrificou” durante o ano do vestibular foi Letícia Cristovam, 22. Ela garante que não se privava de festas durante o último ano do ensino médio, mas evitava aquelas que aconteciam na sexta, porque tinha aula no dia seguinte. Assim como Izabela, Letícia não estudava nos fins de semana, “sem chance”, e reservava esse período para embarcar até às 4h da manhã na curtição. “O segredo foi não exceder em nada, nem estudava demais e nem farreava demais.” Para quem imagina que essa mistura não foi boa, engana-se: ela foi aprovada nas duas universidades públicas de Goiás e hoje faz Engenharia Civil, na UEG.

É muito importante que o estudante conheça os seus limites. Não é bom ficar até muito tarde estudando ou farreando e dormir pouco, porque o corpo precisa recuperar as energias para conseguir apreender todo o conteúdo. Pedro Balby, 21, foi adepto do descanso durante o seu ano vestibular. Ele, que estudava no período da manhã, reservava três horas da tarde para tirar um cochilo e só depois disso é que estudava um pouco. “Só estudava mesmo quando tinha prova no dia seguinte e aí ficava quatro, cinco horas em cima dos livros”.

Pedro conta ainda que não dispensava um “futebol” e saía regularmente para bares, festas e boates. “Nada em excesso, saía pra me distrair, não pra acabar com a minha disposição”. Hoje Pedro está no último ano da faculdade de Direito da Universidade Federal de Goiás. Parece que o segredo é esse mesmo: não exceder. Ir à festas não significa que você tenha que se embebedar e ficar até o amanhecer, mas sim se divertir, conversar, dançar e relaxar. A intenção é que você não esteja um caco no dia seguinte, porque a vida continua e é preciso estar bem disposto para aproveitar o tempo que você tem para se preparar.

Bicho de sete cabeças

Não, o vestibular não é um bicho-papão, nem um bicho de sete cabeças. É uma época de muito preparo e de consciência que uma única vaga é disputadíssima. Isso não significa, porém, que você deva passar a respirar, comer e beber “vestibular”.

Uma dica muito importante: organize os seus horários. Faça um quadro e mantenha-o num lugar bem visível para você. O esquema deve ser montado de forma que divida o seu tempo em “tempo para estudar” e “tempo para relaxar”. Como já mostramos na matéria Dicas para o ano de Vestibular, o ideal é que o estudante não exceda o tempo de 4 horas diárias em cima dos livros, por isso, fizemos um quadro modelo para você se inspirar e adequar ao seu jeito de ser.
 

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Agora aprenda como fazer a sua tabela! O período da manhã é reservado para o colégio, menos o Domingo, e já que não há necessidade de acordar cedo o melhor é aproveitar o tempo para descansar (inclusive das baladas do sábado). Importante do domingo: não se exceder no descanso também: quanto mais você dorme, mais o seu corpo pede por descanso – o ideal é não ficar até muito tarde na cama.

Depois que a gente chega do colégio, tudo o que se quer é comer e tirar um cochilo. Isto não é proibido, muito pelo contrário: é muito saudável. Depois que você come, o seu corpo concentra o sangue e as energias para digerir o almoço, ou seja, sua força está no seu estômago. Nem adianta ficar forçando o cérebro, não vai sair nada, portanto, o melhor é comer e dar um tempo. Duas horas são suficientes, nada de pegar o resto da tarde pra dormir!

Depois de descansar, o jeito é pegar no batente: 4 horas de estudo, que você deve concentrar em alguma área, por exemplo: tente ver o conteúdo de matemática, física e química num dia só, porque assim o seu cérebro vai estar mais concentrado em matérias de exatas, facilitando a compreensão e memorização do conteúdo. No sábado o esquema é livre: você pode fazer o mesmo da semana ou se ocupar com outras atividades. A dica é aproveitar esse tempo para ler os livros literários cobrados no vestibular ou revistas e jornais para ficar por dentro do que anda acontecendo no mundo (o tema cobrado nas redações geralmente é de atualidade).

No final da tarde o tempo fica livre para estudar alguma língua estrangeira (que aqui exemplificamos como Inglês) ou praticar algum esporte. A atividade esportiva é importante para arejar a mente, exercitar o corpo e descarregar energias. Nessa época o stress é grande e é preciso fazer com que ele seja dissipado de alguma maneira e o esporte é o mais indicado para este fim.

No fim do dia, DORMIR! É, dormir! Nada de ficar até tarde pra ver um filme ou se empolgar com a novela. O seu corpo precisa de um descanso contínuo de 8 horas por dia para estar capacitado a aprender no dia seguinte. No sábado você está liberado do horário fechado de 22h, porque no domingo não é preciso acordar cedo. No entanto, no domingo é importante lembrar que segunda é dia de índio! Tem que acordar cedo outra vez e aí: dá-lhe estudante às 22h na cama!

A recompensa

Se você acha que ter sua vaguinha garantida na universidade é a única vantagem, então está completamente enganado. Além de poder estudar um assunto que você realmente escolheu e gosta, o lance é se preparar para as muitas festas que virão. A galera da faculdade é muito animada e sem as preocupações e pressões do pré-vestibular.

Na faculdade, Letícia se espantou com a quantidade de convites para diversão: “as festas aumentaram muito, inclusive durante a semana”. Da mesma maneira aconteceu com Pedro, que hoje participa de vários churrascos, do “futebolzinho” e das festas que o pessoal organiza. “Tem muita curtição, o pessoal é muito animado e a gente se reúne sempre que possível”.

Já Izabela, que mora sozinha em Portugal, afirma que as festas são muitas, mas as responsabilidades também. “As festas aumentaram, mas aqui a gente tem que estudar muito e a responsabilidade cresce. Ao mesmo tempo em que a liberdade aumenta, percebemos que temos que selecionar as baladas, porque temos que começar a estudar uns 6 meses antes das provas…”. O tempo que ela necessita para estudar é proporcional à dificuldade dos exames na Universidade de Coimbra, que ela afirma nem ser possível comparar com os exames das universidades brasileiras. E brinca: “Cada prova para passar é como se fosse uma Fuvest!”.