O ranking do Enem e as escolas que não existem

Em 11/08/2015 18h23 , atualizado em 12/08/2015 09h14 Por Adriano Lesme

Colégio Objetivo comemora o primeiro lugar no Enem
Colégio Objetivo comemora o primeiro lugar no Enem
Imprimir
Texto:
A+
A-
PUBLICIDADE

Na semana passada, o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep) divulgou o resultado do Enem por Escola 2014, o que proporcionou a montagem dos famosos rankings de melhores escolas do Exame Nacional do Ensino Médio. É bom deixar claro que essas listas com a posição dos colégios são feitas pela imprensa. O Ministério da Educação (MEC) é contra a formação dos rankings, pois, na sua visão, não refletem a realidade das escolas. E eu concordo.

Fazendo uma mea-culpa, nós da imprensa divulgamos o ranking de escolas do Enem visando a audiência. Os alunos querem conhecer a posição de suas escolas e os pais querem saber quais são os melhores colégios para matricular seus filhos. O Inep apenas divulga as notas obtidas pelas escolas, ou seja, média dos alunos participantes em cada uma das áreas de competência do Enem e na redação.

Então como são feitos esses rankings? A imprensa usa as notas das escolas em cada área de avaliação e calcula uma média geral. Essa média pode envolver ou não a nota da redação. Na maioria dos casos não envolve. O ranking que não considera a nota da redação mostra o Colégio Objetivo Integrado, de São Paulo, em primeiro lugar. O que envolve a redação tem o Colégio Olimpo Integrado, de Goiânia, como líder. O que esses dois colégios têm em comum? Ambos não existem! Na realidade, existem os colégio Objetivo Unidade Paulista e Olimpo, mas eles não figuram entre os primeiros. O mesmo vale para vários outros colégios nas posições seguintes.

As melhores escolas nos rankings do Enem divulgados pela imprensa são criadas justamente com esse propósito. Funciona assim: grandes colégios de ensino médio reúnem os melhores alunos em uma única turma e criam um outro CNPJ. Na teoria, são "empresas" diferentes, mas, na prática, se trata do mesmo colégio. Além disso, boa parte dos alunos dessas “turmas especiais” ingressa no colégio apenas no terceiro ano, ou seja, vieram de outras escolas e receberam bolsas para se dedicar ao Enem e elevar a pontuação da instituição.

Solução

O MEC sabe dessa “gambiarra” e, por isso, não divulga um único ranking. Na entrevista coletiva que o MEC concedeu durante a divulgação dos resultados do Enem por Escola, o ministro Renato Janine Ribeiro apresentou novos indicadores para uma análise mais aprofundada dos dados. Esses novos índices mostram o tamanho da escola, a permanência do aluno e a taxa de reprovação. Em resumo, é possível analisar se a escola mantém o aluno durante os três anos do ensino médio em vez de expulsá-lo, no caso de baixo desempenho, ou colocá-lo no outro CNPJ, no caso dos melhores alunos.

Esse ano, o Inep divulgou alguns rankings (top 10) que podem refletir melhor o bom desempenho das escolas no Enem. Em um, por exemplo, foram listadas apenas as escolas de grande porte (mais de 90 alunos participantes do Enem) e com indicador de permanência alto (mais de 80% dos alunos cursaram todo o ensino médio na escola). Nesse ranking as falsas escolas não aparecem, já que possuem em média 40 alunos e baixo índice de permanência. Para matar a curiosidade, o primeiro lugar ficou com o Colégio Santo Agostinho, de Belo Horizonte. 

O Inep também divulgou top 10 de escolas de grande e pequeno porte com nível socioeconômico baixo e muito baixo. Esse ranking é importante porque mostra as escolas que conseguiram um bom desempenho no Enem mesmo com poucos recursos financeiros. 

Consulte os rankings top 10 divulgados pelo Inep

Mas não é só o MEC que pode agir para inibir a criação das falsas escolas. Essa prática existe porque o marketing funciona. Existe porque os pais continuam utilizando o ranking do Enem para definir a escola dos seus filhos. Os pais precisam entender que existem fatores mais importantes, como estrutura, nível dos professores, estratégia pedagógica, índice de aprovação em vestibulares etc. 

A imprensa também pode elaborar rankings mais criteriosos. Nós temos o papel de prestar um serviço que agregue conhecimento da realidade ao leitor. Com esses rankings simplórios estamos prestando um desserviço, contribuindo para o marketing das escolas excludentes, elitistas e que pouco se interessam pelo aprendizado do aluno.

No ranking Enem por Escola 2014, o Brasil Escola decidiu excluir as escolas com menos de 50 alunos. Entendemos que, assim, o ranking represente algo mais perto da realidade. Apesar disso, pedimos aos pais e alunos que façam uma análise mais complexa do nosso ranking. A educação é algo muito importante para ser mensurada de forma simplória.